06 novembro, 2016

Qual a graça de Artic Monkeys?


Na primeira faixa, um rock riffado, bem timbrado, moderato. Bem produzido, familiar.

A segunda faixa, outro rock riffado, estrutura parecida na relação estrofe e refrão, convenções bem ensaiadas, no ao vivo eles devem ser mui envolventes. A saída do C pro retorno do refrão tem dinâmica, silêncios, as frases andam pelas cordas, mas particularmente, coisa de gosto pessoal, sinto falta de modulação, contra pontos mais interessantes.

Na terceira faixa eu já tou um pouco entediado, mas não tou prestando atenção no texto, pode ser bonito. A melodia em oitava, e no refrão as vozes se polifonizam. Esta faixa tem novidade, mas acho que em comparação com as outras. Acho que eu só ando cansado do rock, mas são bons compositores.

Até a quarta faixa, todas canções seguem a fórmula do riff dinâmico, parece essa a pesquisa deles. Por aqui tou mais dentro da estética, começo a me interessar mais, reparar em detalhes.

Todas as músicas parecem usar recursos muito semelhantes, pode ser estética, mas é muito gênero. A melodia em oitava, a guitarra dobrada, as convenções com pausas, o refrão forte a estrofe piano.

Ouçamos agora essa com piano. Mas já não é um clichê? Toda banda de rock precisa de um andante com piano e violão de aço? Ai, o VIm, sempre cai bem, mas depois daqui é um clichê atrás do outro, o I(#5) depois IV, IVm.

Os discos de rock parecem seguir ainda a tendência dos Beatles, que o fizeram assim porque era novidade. Como uma forma Sonata, Allegro, depois Andante, depois uma dança e fechar com outro Allegro. O lado B clichê do rock é esse piano cafona com essas progressões clichês. A música é bonita, mas não tem novidade, ou não sou sensível a elas. Fazer como os mestres é fazer diferente deles.

Critico porque vi este disco, AM, conceituado como melhor disco da década de 2010. Nem de longe. A mix não é melhor que do que o último d'O Terno, bem parecidas, inclusive, "Melhor do que parece" me parece ainda mais atrevido com o pan, as timbragem das cordas, os gêneros.

Agora tá tocando um folk chatinho tipo Velvet Underground, Mad Sounds, que já era chato com o Lou Reed, mas ao menos era novidade.

Acho que disso muitos compositores carecem, e eu só sinto falta porque é algo de que gosto, tenho certeza que muitos apreciadores assim gostam e até preferem, sons familiares, que lhes caia bem e facilmente aos ouvidos. Eu sinto falta do estranhamento, do encantamento, com o disco d'O Terno me emocionei, com "Tropix" da Céu fiquei curioso, se falar de discos de mestres desta década como de Prince, Van Dyke Parks, ou Tyler, the Creator.

Tem até direito a backing vocal de chuá chuá.

"Snap out of it" tem uma pega Panic at the disco, se atreve mais na harmonia, mas me faz pensar em como "If you keep losing sleep" do Silverchair é a melhor canção nesta pesquisa, com arranjos do Van Dyke, deve ser até referência pra esta faixa do Artic Monkeys.

Gostei do C de "Knee socks", eu já tava até distraído, mas a voz diferente, a leve harmonização, já faz alguma coisa acontecer.

A última é quase um R&B, mas a essa altura tou achando chatíssimas essas vozes em oitavas, coisa de moda. Essa música pode ficar bonita com um bom arranjo.

Que bom que os caras estão compondo, participando da cena, tomando a frente e incentivando novos artistas, mas a mim não agradou, mais um disco de rock, nada mais. Riffs, clichês, uns folks, uns pianos e tudo saturado, o que até acho bonito, mas a mim o que interessa na Arte não é o belo mas sua capacidade de criar novos desejos, portanto novas subjetividades, novas possibilidades de existência, este disco me parece repetir um modo existente, por ofício, por apreço, tem contexto e relevância, mas como obra de arte não me apetece.

No começo dos anos 2000 King Crimson já caçoava com isso.