14 maio, 2017

Perdoa

Por te beijar
Por te adorar
Com mais palavras
Por te mostrar o quanto te quis
Por te manter cerca de mim
Pra te amar até o fim

Por depender
Tanto querer
Estas mãos fadas
Por te acordar a paz de mim
Por não saber viver sem ti
Por isso, amor, imploro
Me desculpe

02 maio, 2017

Falar sem dizer

Escrever em Inglês pode ser uma escolha estética. Ele tem texturas, cores, sons, prosódias diferentes de nossa língua mãe. Muitas palavras são monossilábicas, e alterações de prosódia não mudariam necessariamente o sentido. Pode ser também uma adaptação à linguagem internacional, de mercado, em especial da internet, onde por decreto, ou não, é língua padrão, e das mais faladas no mundo se incluirmos segunda língua. Mas se fosse esse o caso, também veríamos conterrâneos nossos escrevendo em Espanhol, quiçá em Mandarim, o que não acontece.

Ouço nas discussões sobre o assunto um julgamento de gosto em cima de duas justificativas: que outros compositores pelo mundo também escrevem em inglês; que os artistas devem ter a liberdade de escolha e isto não deveria servir de crivo ao público. Bandas Brasileiras que tem o repertório em Inglês costumam circular em nichos específicos do gênero, como no Metal, Punk, etc, onde, talvez, o público releve a língua falada por priorizar outros atributos dessas músicas. A meu ver a discussão se perde aqui - pouco importa o gosto pessoal de cada um. Na medida do possível, em abstrato, o que pode representar cantar em inglês? A construção do argumento elucidará nossa preferência.

Por fim, sinto que compondo em Inglês o Brasileiro se isenta da responsabilidade do que está dizendo. Não seria absurdo dizer que a maioria do público de cá não entende Inglês, ao menos de imediato, sem precisar traduzir. Para este sujeito o sentido do que se diz chega muito depois do sentido musical, digamos - harmonia, melodia, ritmo, etc. Há músicas - RAP, repente, por exemplo - em que o texto é protagonista, há outras, incluo aqui a bossanova e o jazz, em que o texto é, ou pode ser, coadjuvante. Sinto, e isto é bem pessoal, que bandas Brasileiras compõem em Inglês pra não se implicarem naquilo que estão dizendo, poderem dizer sem fazer, a priori, sentido. O sentido, aquilo que se sente, fica a cargo de potências, digamos, musicais.

Pessoalmente não acredito que seja na capacidade cosmopolita do Inglês que nossos compositores mais se apoiam pra compor, por mais que assim o afirmem, mas nesta espécie de facilidade e pouca implicação com o que se diz. Exemplifico o que digo com uma música minha, composta aos 13 anos. Nesta época eu utilizava o Inglês sem nenhuma razão ou censura, Bernardo Flesch que me fez revisitar este tema, e hoje leio nesta minha ingenuidade um deboche contra isso de escrever em Inglês.



Outra música minha, mais recente, precisamente sobre este tema é "If u r wrong (do it all again)". O texto repetitivo, falando sobre fazer errado e tentar de novo, é uma provocativa - no caso, a mim mesmo - pra continuar fazendo, tentando e errando, fazer poesia não é simplesmente escrever o que se quer dizer.