18 novembro, 2014

Presente pró escolha

Em certos assuntos
Eu quero uma coisa,
Tu outra. As santas
Profanas, como Vênus, bruxa
Empoderada, vens nua.
A ti dedico esta pobre
Alquimia moderna,
Sugestão, pílula, poesia
Pra que filha minha
Tenha mãe que queira ser.

26 setembro, 2014

Cover, releitura e autoria

No cover se reproduz a obra de um artista, deve-se adquirir uma técnica para executá-la, mas o músico cover ainda ñ cria, recria, retrata uma paisagem antiga, em tributos se pretende o milagre da ressurreição, em covers bem feito temos a ilusão de reviver aquela época, mas é teatro, o contexto é agora, atual, apesar de o texto ser antigo. 

Há uma outra maneira de um músico tocar a obra de outro, relendo-a, refazendo-a a seu modo, no seu tom. A versão comporta traços, fios, do autor e do intérprete, resulta de uma espécie de troca, parece roubo aos defensores dos direitos autorais justamente pelo autor ñ ter participado consciente na troca, mas infelizmete a obra ñ pertence ao autor, tem vida própria, a releitura transa com a própria obra ñ com o autor. 

Mas a sublimação última possível é a música autoral, nela o resultado é o fazer artístico, as referências ainda aparecem, mesmo q o autor ñ repare o pode assustar feito um monstro. A música própria é a filha sempre primogênita, pois q os pais ñ se sabe bem quem são, a filha é sempre de outro, o autor se sente quase estuprado por tudo o que já viveu, deve ter controle das palavras pois agora são suas, se responsabilizará por elas, apesar de ñ poder realmente desfazer o que foi dito, desfazer-se da filha, ela já nasce debutante e é um pouco vadia.

19 setembro, 2014

Deus dói

Deus se parece contigo,
mas também parece uma flor,
um bambu ao vento, torto,
parece um escravo, um cravo
negro e mia como gato claro
negro e minha mãe,
amorosa e moralista,
é livre e não fala, é um pouco verde,
se distancia e se aproxima
do repouso, do sol esburacado
e triste. Deus é Letícia, Larissa,
alegria e sal, é mar francês,
pai sem nome - ninguém herdará,
somos todos propriedade
química e comida de Deus, de camelo,
puro produto industralizado,
caramelizado, verniz de maçã.
Deus é raiva e morcego,
se parece comigo, consigo,
com o que ninguém viu.
Deus é o que não é
possível di
                zer.

Som sem sentido

Não sou bom de rima.
Esta não será nenhuma obra prima.
Nunca fui muito bom
em dar sentido a isso, som
de onde vem? vem das musas,
vem do vento, do ar,
das árvores que não falam,
das vacas que não falam
mas gritam - é um grito,
falta de leite, ou de outra
mãe.

Som é silêncio,
e só a música pode sê-lo.
Não sei sobre o que cantar,
canto de dentro.
Superfície é outra estética,
mas a canção fala.

Borboleta

Voava baixo,
na altura de meus olhos.
Não sei a que altura podem chegar,
acho q nunca me o ensinaram,
depois procuro na internet.

Parecia voar com graça,
se balançava, ventava,
não parecia vento forte,
os sentia balançar
os pelinhos do pescoço
mas não os da cabeça.

Voou cada vez mais baixo,
chegava quase na altura do meio fio
e esbarrou num pedaço de maçã
comia do chão?

Cedeu-se ao asfalto,
preocupei-me com os carros,
matam tudo o que não veêm pela frente.

Parou de bater as asas,
pareciam chamas,
agora em brasas.
Quato tempo vive a borboleta?
O que significa ter sido larva?

Morreu,
e no instante em que abaixei o rosto
para pegar o celular no bolso
e quis olhar de volta ao fim
o espetáculo estava sem atriz,
e eu nem tive tempo de lhe entregar flores.

Bosque

O bosque é calmo
verde e diversificado,
árvore, prédio,
madeira e concreto.

O bosque se movimenta
com a terra e se diverte
com quem passa, fica,
dança e morre.

O bosque não tem sentido
algum, é silêncio e piu
e quando sopra um vento
as folhas que não desgarram
suspiram até o próximo sopro,
no mais tardar até o próximo outono.

Com o bosque não há negociação,
quando chove molha
e a brasa não sustenta.

Boceta psicótica

Concordo com o pensamento psicanalítco de que existem duas coisa realmente importante ao sujeito: amor e trabalho; gozo e produção. Acredito que ambos pontos se convergem, trabalhamos para amar, gozamos para produzir. No que tange a profissão do músico não haveria de ser diferente. 

Um personagem famoso no mundo da música é o rockstar, estrela do rock, rochaestrela, comumente retratado em um moderno jardim epicurista recheado de drogas, rock n roll e sexo. Por certos motivos, que hoje já não surpreendem mais ninguém, os homens, cis, héteros, encorporam a maioria dos rochaestrela, o que resulta em um cenário onde os homens se instrumentalizam com guitarras nas mãos e microfones à boca, e as mulheres oferecem seus sexos como “paga natural” da profissão. 

A música, o roquenrrou, o rocha e rola, e talvez toda a, as, Arte, artes, deve causar estranhamento. O estranhamento é o único efeito do conhecimento. Quando se encomendam um novo quadro de Duschamp e ele lhes entrega um miquitório, assinado por outra pessoa, que público sentiu-se provocado pelo comportamento do artista? 

A academia é locus de reflexão, crítica, controvérsias, teorias e práticas, práxis, paradigmas e suas rupturas. O que é produzido na academia primeiro interfere na academia. O feminismo é um discurso, uma militância que nasce em movimentos sociais, que logo é absorvido e desenvolvido pela universidade. Uma banda surge na universidade, ideia de cinco amigos que querem reviver um tempo que nunca viveram, nostalgia de outrora em que nunca estiveram, em suma pura fantasia criada pelo desejo desses cinco amigos, homens, cis, héteros. Dizem querer representar o que o glam rock propunha: homens maquiados, de calças justas, cabelos compridos, de permanente, faixas no cabelos, nas calças, decotes; homens femininos e muito sexualizados; para sexualizar esses roqueiros deve recorrer ao corpo da mulher, mas ainda têm medo do fantasma da homossexualidade, por isso a submissão da mulher. 

Ao fim da primeira apresentação, cover, jukebox, sem trabalho próprio, atendendo a demanda um público específico, a banda de acadêmicos faz uma sessão de fotos a fim de divulgação, marketing, popularidade, numa dessas fotos os cinco integrantes estão de pé olhando para a câmera, quatro destes têm mulheres ajoelhadas a sua frente, de costas para a câmera, fazendo como se estivessem “pagando um boquete” pros roqueirões bem sucedidos. O rapaz que tem sua virilha desocupada serve de piada aos outros conquistadores como aquele que prefere tomar uma cerveja a transar com um mulher, torna-se piada: como pode um homem, hétero, cis, preferir cerveja a um boquete? Ridículo, todo homem deve querer transar com mulheres, a todo momento, nenhuma boceta deve ser desperdiçada! 

Não são as meninas da foto as ofendidas, afinal elas aceitaram fazer a foto, legalmente, burocraticamente, está tudo em ordem (em direção ao progresso, um empresário tá preocupado com a grana que essa polêmica pode lhes dar; música? arte? política? de nada ele entende, nem pode querer saber, é o significado cru de ignorante; se o papel diz que é permitido, pronto, a polícia não acha ruim portanto é bom), inclusive estão no direito de gostarem de fazer sexo grupal em público, mas a pergunta é para o efeito da imagem composta: o que pensam todas as outras pessoas que se deparam com a foto? Impossível saber, porém sendo eles amigos de militantes feministas, sendo eles filhos de mães mulheres, surpreendeu a ingenuidade, falta de cuidado, falta de reflexão, para fazer uma piada. Não respeitam sequer a boa piada, que pede pra ser composta, com suas pausas, nuâncias, agressiva com a pessoa certa. É piada sem graça. Sem falar que a piada ainda foi mal feita, os homens, machos o suficiente para merecer mulheres a seus pés, mas não para abrir suas calças, se por na piada, compor junto, humilhar-se junto, por à mostra seus pênis moles e impotentes (não deve ser mistério pra ninguém que os homens passam a maior parte do tempo de pau mole, com uma mangueira que serve apenas pra urinar); a composição da imagem só é explícita enquanto se utiliza e atinge as mulheres, não tiveram coragem de se sujeitar pra compor um retrato mais representativo. 

Tenho outras sugestões pras fotos de bando de não músicos: negros roadies sendo obrigados a carregar o maior dos amplificadores de baixo, enquanto os músicos tomam champagne com seus mecenas; ou amputados e outras pessoas com deficiência mostrando suas “superações” e graças sobre o palco afim de divertir a plateia que, com certeza, é bem esclarecida pra reconhecer a tênue linha entre a piada agressiva e a agressividade agressiva. Concordo com a inferência de que toda piada é agressiva ou sexual, no entanto afim de arrancar o riso, o agredido deve “merecer” a agressão. Por que não retratam a submissão desses homens foram maquiados por suas namoradas, que pegaram roupas emprestadas e espremeram suas bolas para serem o que não são? Uma boa piada deve ser bem escrita, pensada, refletida, se não se torna apenas uma ofensa. 

Por último, os membros da banda e as pessoas ofendidas são amigos, colegas, e ao primeiro sinal de confronto foi acionada uma instância legal, o empresário da banda, também conhecido como sogro de um dos integrantes, um “pai” em suma.Pareceu faltar culhões para assumir responsabilidade de um retrato seu e discutir com um amigo, uma amiga. Pergunto-me ainda que representatividade tem uma banda que fez um show apenas? Um show com música dos outros, pode parecer banda que não fala por si, que usa apenas palavras dos outros, inclusive de pai de namorada. Que autoridade, que referências eles têm para tentar se defender contra mulheres que reconheceram ali mais um retrato da opressão contra elas? 

Acusam essas mulheres de serem feminazi. A esse argumento não consigo pensar noutra referência se não a famosa frase de Freud, aqui parafraseada: “O homem é dono do que cala e escravo do que fala. Quando banda de glam rock fala de feminismo sei mais de banda de glam rock que de feminismo”. Falam sem conhecimento de causa, e isso é óbvio: são homens. Eu não sou feminista, mas defendo o feminismo, acho arriscado e um pouco ingênuo um homem que diz com a boca cheia “sou feminista”. Falam de feminismo como uma espécie de contraposição, um giro de 180°, ao machismo. No entanto machismo parte do pressuposto de que aquilo que é do macho, pênis e estrutura física, tem sua razão de dominação, em detrimento daquilo que é da fêmea, vulva, útero, seios, braços menos fortes. O feminismo defende aquilo que é feminino, que é um conceito mais abstrato do que o que é da fêmea, e o feminismo não infere contra aquilo que é masculino, marcial, mas se põe entre as pessoas querendo seu lugar de direito, para que mulheres e homens possam usufruir de seus atributos, assim como aquilo que é masculino, mulheres não são ovacionadas por tomarem posições masculinas? Daquilo que referimos, em um primitivismo fantasioso, ao que concerne à caça e outras virilidades? Não é a posição dos machos que se quer tomar, mas é o ideal feminino que se quer diluir. Quando um bando de guris se mantém na posição de macho usando de pilar mulheres submissas, estão fazendo um grande desfavor à militância de suas amigas, mães e outras mulheres (e homens?), fazem graça da desgraça. 

Não é um problema legal, nunca é. As resistências, as minorias estão sempre marginalizadas, à margem, à esquerda, portanto estão fora da lei. Mas não esqueçamos que nossos legisladores ainda são maioria homens, cis, héteros, burgueses, podres de rico, quem irá defender os indefensáveis? O rock n roll poderia fazê-lo, a música, a arte, pois ela não depende da demanda da situação, mas provoca reflexão para oposição. Não que tudo deva ser feito à sombra da paranoia política, mas todos somos, no cotidiano, inteiros e portanto políticos.

24 junho, 2014

bandeira

a faixa branca
que poderia representar a paz
separa dos vinte e seis
com os dizeres:
ordem e progresso
o distrito federal
fica acima do branco,
da paz, da ordem
fica acima do que quiserem
basta que escrevam
e os estados abaixo
assinam em baixo

o verde amazônico
o amarelo areia praia
o azul firmamento
só cobre a pátria
durante jogos de futebol

03 junho, 2014

Ensaio sobre Música e Psicanálise

“Quanta gente existe por aí que fala, fala e não diz nada
Ou quase nada
Já me utilizei de toda escala e no final não sobrou nada
Ou quase nada
(...)
E quem quer todas as notas, ré, mi, fá, sol, lá, si, dó
Fica sempre sem nenhuma, fica numa nota só”
(Tom Jobim, Newton Mendonça)

Qualquer sujeito já se emocionou ao ouvir uma música, se arrepiou, até se emocionou e chorou, sem saber por que. Antes que se possa falar, a música já cantou. É real. Em ato.

Simbólica nas partituras; nas explicações físicas relativas às ondas e frequências e suas consonâncias; nas memórias de namoros passados, de lugares que não mais estão.

É imaginária na ação do compositor, que imagina os sons. Seu esforço é de tornar o som imaginado em som real. Imaginar um som novo, que nunca foi ouvido. Ora, essa imaginação criadora, essa criatividade do compositor, não vem literalmente das nove Musas, filhas de Zeus com Mnemósine, as referências sonoras - o repertório - tem seu arquivo no inconsciente. Ou seja, nem bem acessível ao músico.

Por isso, nada mais óbvio: o músico estuda música; escuta música. Pois que, tanto não vem “do nada” a santa inspiração, que a música possui toda uma gramática funcional, como uma língua. E, como toda a língua, não são regras ditadas pelos músicos, pelos compositores, mas regras descobertas pelos analistas musicais.

Há também o fenômeno do improviso musical. No instante do improviso o músico não tem tempo hábil para pensar em cada nota, cada pequena duração, cada intensidade, cada mínima expressão... É bem capaz de o próprio improvisador se emocionar com o que toca, como se falasse algo de que não tinha a mínima ideia de que existia em si. Improvisar é livre associação.

No entanto livre associação de uma maneira muito especial: sem imagem, sem palavra. Apenas som. Não é à toa que Freud admite em seu texto sobre o Moisés de Michelângelo: "(...) com a música, sou quase incapaz de obter qualquer prazer. Uma inclinação mental em mim, racionalista ou talvez analítica, revolta-se contra o fato de comover me com uma coisa sem saber porque sou assim afetado e o que é que me afeta." Assim como à psicanálise, também se tem resistência à música, imagino que pelo seu caráter apelativo (que retira a pele), e por isso muitos devem preferir uma música superficial, que faz suave cafuné sobre a carne, um soprinho no sagrado rosto, que massageiam o individual ego: “não sacudam meu eu!”

Música não é apenas som. Aliás, é a todo instante permeada, atravessada por silêncios de todos os lados (como diz Lacan sobre a esquize do olhar no Seminário 11). Tudo o mais que não é música, durante sua execução, é silêncio, é falta de som, é desejo de som (o que não parte do “ponto de vista” da música são “olhares” silenciosos que vêm de todas as direções). Centenas de pessoas sentadas, quietas, ouvindo um concerto desejam, em silêncio, som. Há silêncios entre uma batida e outra, entre uma nota e outra da melodia. Dentro de um acorde de C7M(9, #11), acorde de seis notas, há outras seis notas - pelo menos - que não estão sendo tocadas; silenciosamente esperando o debute. Poderíamos dizer, até, que o músico é um administrador de sons, e, como todo administrador, trabalha com a falta, não com excesso. Excesso de som é como um barulho de construção, quem administraria isso? (John Cage, Stockhausen, Penderecki, entre outros...)

Será naquele instante, quando a música nos atinge em cheio a falta (quando dá uma nota diferente da que se esperava, ou a banda faz uma pausa súbita, ou quando o corpo reage a interrupção súbita das ondas mecânicas, ou quando me lembra a falta que faz alguém não estar aqui), é que nos emocionamos? 

O músico tem um poder que outro não músico não tem. Ou seja: falo. E não é só no objeto violão - máquina que se acopla ao corpo-eu e aumenta seu volume, e aumenta também sua potência. Potência de agir, como Espinosa define Alegria. O músico domina toda uma linguagem que todos são capazes (aliás, quase são incapazes de não fazê-lo) de sentir, quase como se entendessem ispi literis o que está sendo “dito”. E de fato compreendem, mas nem sempre se conclui o movimento do real ao simbólico, a dificuldade deve estar justamente nesse fator de que é difícil à música ser imaginada ou falada, a música se é cantada. O real (da música) nos vem em pedaços.

Na Grécia clássica se dizia que músico estava encantado pelas Musas.

Orfeu fazia o sol nascer com seu canto. Convenceu Hades de recuperar do inferno sua amada Erídice, através do canto.

As sereias desviavam marinheiros e piratas de seus rumos com seu canto.

A voz cantada ainda tem um aspecto a mais, quando contraposta com um violino, ou uma guitarra, uma flauta, etc. Qualquer pessoa tem - salvo os mudos - voz. É o espelho, identificação.

Música tem um poder tal que é capaz de mover multidões. Podemos usar o exemplo fabuloso do flautista de Hamelin, que conseguiu afogar os ratos que pesteavam a cidade, com o poder hipnótico de sua flauta. Ratos. Pessoas não deveriam se deixar transformar-se em ratos e serem afogadas por flautistas gananciosos, mas se sujeitam a cada coisa... Confudem música com imagem, se perdem na sinestesia. Compram um “artista” pelo rosto bonito, pela identificação, por estilo de vida, e os motivos narcísicos são tantos quantos narcisos no jardim regado pela mídia de massa. Ou também em momentos de grande multidões revolucionárias, como em Woodstock, ou na fama de “Pra não dizer que não falei das flores” de Geraldo Vandré.

Música, claro, não é psicanálise. O grande pulo está, talvez, na ausência da transferência quando se trata de música. Enquanto na análise o analista se oferece como suporte ao fenômeno da transferência (Harari, 1990. p. 22) na música o encadeamento das ideias livremente se faz via tonalidade, via temperamento da música. O fenômeno, na música, não é a transferência, mas outra. Qual?


Palavras-chave:
A música nos registros lacanianos de real, simbólico e imaginário.
Improviso e livre associação.
Esquize do silêncio.

Referências:
Harari, Roberto. Uma introdução aos quatro conceitos fundamentais de Lacan. São Paulo: Papirus, 1990.
Lacan, Jaques. Seminário livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
Freud, Sigmund. O Moisés de Michelangelo. In: freudonline.com.br
Portal Grécia antiga: greciantiga.org
4 de Julho de 2012

21 maio, 2014

Formatura

Vejo chegando o fim
De um eterno começo.
Como se ainda aprendiz 
Nunca pronto para dar 
Certo (errado sempre
estive). Caminho e reparo
no céu, em monumentos,
prédios, pessoas. Caminho
porém incerto (desconfio
quando todos concordam).

Untar, pôr na forma, assar 
Bezuntar, formar, queimar 
Banhar, definir e lançar 
Às bocas famintas 
De quem já está bem 
Alimentado.
Tenho medo 
De ser comido 
E virar merda.

10 fevereiro, 2014

acanhado de mostrar
de arriscar ruim
não sei por que
demoro tanto
como tomado da coragem
como se pudesse sangrar
parecer bobo

o teclado
ele claro parado
eu também
por quê, que mal
me fará, ou me fará
bem?

lá si sol sustenido, um pêssego
pela minha orelha, ou saem
pela cabeça, minha ilha
mágica, brada por eus beiços

eis minha pobreza mais rica
ninguém entenderia, dizem todos
não estou louco, é só novela
das oito, música mesmo é rock n roll

se medo é bobagem
lançar-me-ei
feito um idiota!

06 fevereiro, 2014

algumas coisas não são perfeitas
algumas coisas são
alguns não
algo são
algodão

al   ãõoão      ão  ão
   umas coisas n   s
  guns
   o

algumas                        perfeitas
alguns
algo
      dão      não são

                 são             perfeitas
             são
        não
      são
    dão

23 janeiro, 2014

fábula flóripa

o menino sai de baixo do sol quente do verão para comprar pão

no caminho, árvores estrategicamente plantadas para fazer sombra

sobre os carros parados no meio da cidade