24 dezembro, 2016

Tira da Saúde e põe na Cultura que cura

Se o MBL apoia, é cilada.
A Oficina de Música de Curitiba foi cancelada, o prefeito fez a infeliz constatação de que usará as 900 mil golpetas em saúde.

O Estado tem recurso para tudo, faltar dinheiro para a Cultura é retirar dinheiro de trabalhadores e famílias. Cultura não é entretenimento, é identidade de um povo, é local de fala, liberdade de expressão, é direito básico. Sem Arte perigamos ficar reféns de narrativas rasas, pobres de conteúdo, com mais cosmética do que estética, como a televisão e outras grandes mídias, sem preocupação ética. Investir em Cultura é questão de saúde pública, mental e social. O que este prefeitinho da República de Curitiba faz é pura demagogia, é criar atrito entre estes dois setores, Saúde e Cultura, e pô-los um contra o outro. Ora, quem seria contra Cultura? Quem seria contra Saúde? Absurdo, o inimigo é outro, é um Estado falho, Governos corruptos, instituições corporativistas e politiqueiras, vendidas. É um problema Cultural. Não digo que Saúde não deva ser priorizada, mas sem investimento na Cultura há toda uma parte essencial da nação que adoece. França, Inglaterra, Japão, México, Israel, Índia, são reconhecidas como são por sua medicina ou sua Arte? Recebem milhões de turistas em seus hospitais ou em seus museus? Há de haver infraestrutura para recebê-los, claro, mas sem Cultura é como se não houvesse por que ter saúde, a cidade se torna trajeto.

06 novembro, 2016

Qual a graça de Artic Monkeys?


Na primeira faixa, um rock riffado, bem timbrado, moderato. Bem produzido, familiar.

A segunda faixa, outro rock riffado, estrutura parecida na relação estrofe e refrão, convenções bem ensaiadas, no ao vivo eles devem ser mui envolventes. A saída do C pro retorno do refrão tem dinâmica, silêncios, as frases andam pelas cordas, mas particularmente, coisa de gosto pessoal, sinto falta de modulação, contra pontos mais interessantes.

Na terceira faixa eu já tou um pouco entediado, mas não tou prestando atenção no texto, pode ser bonito. A melodia em oitava, e no refrão as vozes se polifonizam. Esta faixa tem novidade, mas acho que em comparação com as outras. Acho que eu só ando cansado do rock, mas são bons compositores.

Até a quarta faixa, todas canções seguem a fórmula do riff dinâmico, parece essa a pesquisa deles. Por aqui tou mais dentro da estética, começo a me interessar mais, reparar em detalhes.

Todas as músicas parecem usar recursos muito semelhantes, pode ser estética, mas é muito gênero. A melodia em oitava, a guitarra dobrada, as convenções com pausas, o refrão forte a estrofe piano.

Ouçamos agora essa com piano. Mas já não é um clichê? Toda banda de rock precisa de um andante com piano e violão de aço? Ai, o VIm, sempre cai bem, mas depois daqui é um clichê atrás do outro, o I(#5) depois IV, IVm.

Os discos de rock parecem seguir ainda a tendência dos Beatles, que o fizeram assim porque era novidade. Como uma forma Sonata, Allegro, depois Andante, depois uma dança e fechar com outro Allegro. O lado B clichê do rock é esse piano cafona com essas progressões clichês. A música é bonita, mas não tem novidade, ou não sou sensível a elas. Fazer como os mestres é fazer diferente deles.

Critico porque vi este disco, AM, conceituado como melhor disco da década de 2010. Nem de longe. A mix não é melhor que do que o último d'O Terno, bem parecidas, inclusive, "Melhor do que parece" me parece ainda mais atrevido com o pan, as timbragem das cordas, os gêneros.

Agora tá tocando um folk chatinho tipo Velvet Underground, Mad Sounds, que já era chato com o Lou Reed, mas ao menos era novidade.

Acho que disso muitos compositores carecem, e eu só sinto falta porque é algo de que gosto, tenho certeza que muitos apreciadores assim gostam e até preferem, sons familiares, que lhes caia bem e facilmente aos ouvidos. Eu sinto falta do estranhamento, do encantamento, com o disco d'O Terno me emocionei, com "Tropix" da Céu fiquei curioso, se falar de discos de mestres desta década como de Prince, Van Dyke Parks, ou Tyler, the Creator.

Tem até direito a backing vocal de chuá chuá.

"Snap out of it" tem uma pega Panic at the disco, se atreve mais na harmonia, mas me faz pensar em como "If you keep losing sleep" do Silverchair é a melhor canção nesta pesquisa, com arranjos do Van Dyke, deve ser até referência pra esta faixa do Artic Monkeys.

Gostei do C de "Knee socks", eu já tava até distraído, mas a voz diferente, a leve harmonização, já faz alguma coisa acontecer.

A última é quase um R&B, mas a essa altura tou achando chatíssimas essas vozes em oitavas, coisa de moda. Essa música pode ficar bonita com um bom arranjo.

Que bom que os caras estão compondo, participando da cena, tomando a frente e incentivando novos artistas, mas a mim não agradou, mais um disco de rock, nada mais. Riffs, clichês, uns folks, uns pianos e tudo saturado, o que até acho bonito, mas a mim o que interessa na Arte não é o belo mas sua capacidade de criar novos desejos, portanto novas subjetividades, novas possibilidades de existência, este disco me parece repetir um modo existente, por ofício, por apreço, tem contexto e relevância, mas como obra de arte não me apetece.

No começo dos anos 2000 King Crimson já caçoava com isso.

29 setembro, 2016

29 anos, ponto sem retorno

O da bicicleta é claro, todo mundo diz, não se desaprende a pilotar uma, mas em todo aprendizado há um ponto sem retorno, falar, andar, tocar um instrumento, chega-se a um ponto que, se houver algum tipo de retorno, parece retardo, podemos dizer inclusive isso indicar um sujeito adoecido. É dizer, alguém que fez algumas aulas experimentais de violão ficar umas semanas sem tocar esquecerá de tudo, outro alguém que tenha estudado durante mais tempo, performado, estudado repertório, escalas, mesmo que fique um bom tempo sem tocar, anos quem sabe, quando reencontrar com seu instrumento poderá tocar lindamente, mas enferrujada. 

O adulto é um ponto sem retorno. aos 27 senti uma ruptura, via fotos de falecidos ídolos meus que não viveram pra completar o retorno de saturno, e eu aqui, o que fiz? O que posso, o que devo fazer?

Durante o gerúndio da adolescência, e um pouco menos na juventude, podemos escolher ser músico pra depois biólogo e por fim estudar outros assuntos a fim de tentar concursos. Há então determinado ponto em que tudo isso se adultera, e há uma estagnação, só se pode tentar outra coisa em nome de um hobby, ou seria radical, no sentido de raiz, de que essa decisão deveria ter sido tomada mais original, ingenuamente. Um professor pode ser ótimo músico e ter uma banda legal, mas caso queira priorizar a carreira de músico não faltará quem questione sua maturidade, há um ponto do qual não se deve retornar. Bem, não sem rupturas, desterritorializações, sem algum conflito.

Há outro ponto sem retorno claro, óbvio, do qual só questionam aqueles que ainda não o alcançaram, a morte. Não é dizer que o adulto deixa de ser criança, mas que deve responsabilizar-se e produzir algo ao sê-lâ, adulterar o que há de infantil, pois o infant é aquele que não fala por si, é a infantaria, o fruto maduro nutre, dá sementes e se não se aproveitar de sua potência tudo o que pode fazer é apodrecer.

17 setembro, 2016

M acho

Macho é o cachorro,
O elefante, o mosquito.
Sou qualquer coisa
Além do macho. Bicho
Homem tem palavra
Adequada aos punhos
Da razão. O coice
Dá majestoso o gado.

Este corte nos lábios
Rubricam meu contrato
Com a força da família,
Dos amigos e instituições.

No processo fiquei rico,
Não corro mais perigo
De faltar com compaixão.

O que viu meu amor
Cegueira branca é mais branda.
Literaturação.

Já estou mais calmo,
Paranoia fala alto
Mas fala em catalão,
Não entendo seu sentido,
Ignoro sua intenção.

De repente eu rimo
Por pura distração.
Vou deixar de ser girino
Virar sapo ou sabão
Ou papo ou não.

14 setembro, 2016

Ordem, progresso; polícia, desejos e devires

Como dizem, se organizar direitinho, todo mundo transa. É dizer, há espaço pra libido de todos, pra todos os desejos, mas precisamos organizar.

Na bandeira do Brasil diz ordem e progresso, cafonice positivista, mas conceitos efetivos. De um lado o progresso, o avanço, a mudança, os devires, e do outro a ordem, a manutenção, a neurose. Parte dessa conciliação é feita pelo Estado Democrático de Direito, e a polícia é um dos principais pilares de uma nação firme e justa. 

O que sustenta qualquer um dos pilares deste Estado Democrático de Direito, que é o Brasil, é sem dúvida o cidadão. O projeto de Estado é votado pelo cidadão para que junto ao direito produza leis que protejam o cidadão de, inclusive, outro cidadão, que estimule a economia, a cultura,em nome de mais riquezas, belezas e bem estar social. 

Em casos homéricos de corrupção esperamos poder contar com uma polícia justa, autônoma e bem amparada, contra casos de violência cotidiana, brigas domésticas, na rua, em casos de assalto, ameaças, a boa polícia quando começa a investigar não falha. Por isso tão assustador quando agem de forma truculenta em nome de um Estado que não foi o eleito, por exemplo. A polícia pode ouvir o cidadão, porque ela trabalha para um Estado Democrático. Se esta voz não é a ouvida nas ações do judiciário, do legislativo, do executivo, falta o Democrático no Estado de Direito.

Não se defende menos polícia, questiona-se seu uso. Contra uma manifestação, é necessária uma polícia ostensiva, armada, à cavalos? Contra as drogas, é mais eficiente a polícia ou a Saúde? Uns dizem que sim, outros que não, enfim, opiniões e estratégias diferentes. Como organizar esses desejos dentro de um mesmo Estado? Poderes, constituições, leis, regras sociais, morais... mas nunca podemos deixar de questionar, de criticar, as ideias, ideologias, os desejos, os devires, a própria neurose deve vir do cidadão, do sujeito, não imposto por instituições. Ora, não é isso que se diz contra instituições religiosas? Que cada um possa interpretar o texto à sua maneira e ter meios de que sua voz possa ser ouvida, mesmo que seja dentro de uma garrafa jogada no mar, ou no Twitter. 

Um político não escuta elogios quando faz um bom trabalho, mas crítica, sugestão mesmo fazendo um bom trabalho, no final das contas é pra isso que está ali, para ouvir e legislar em nome de quem fala e vota. Fazemos assim em muitas instâncias, mais reclamar que elogiar, coisa grosseira, podemos mudar, depende de cada um, no entanto há quem se sujeite a prestar serviços ao público, por ofício ou paixão, e deve se responsabilizar pelo local de fala que ocupa. Um boxista reclamar de levar um soco, um psicanalista se queixar que seu paciente fala demais, um pianista reclamar de ouvir piano, um cobrador de ônibus se queixar de dar o troco...

12 setembro, 2016

03 setembro, 2016

A estética da cidade e a pichação Fora Temer

Um local privilegiado para se anunciar, dizer algo, é do que há de mais caro. Alguns segundos no intervalo comercial da tevê, outdoor em local de trânsito pesado, meia página em revista de grande circulação, a letra do anúncio no jornal. Há quem, por circunstâncias e desejos, sente que tem o que dizer mas não por onde, a imprensa revolucionou esse meio, mídia, por onde se dizer, hoje a internet inaugura uma rede entre nós, e é um novo privilégio ter esses sítios de livre expressão. Ainda, anunciar na cidade tem mais alcance, claro, é onde se vive.

Quem detém o controle sob a estética da cidade? Onde seria capaz de nos comunicar com as inúmeras pessoas que passam por nós? Os terminais de ônibus de Florianópolis, do Consorcio Fenix, sabem lucrar com seus paineis, é mais fácil saber das últimas promoções da Pittol, das óticas do pai da modelo, que do horário do ônibus pro Rio Vermelho.

Há pichações que são assinaturas, como faz Trump em seus prédios por Manhattan, há outras que são imperativos, como o outdoor "Não pense em crise, trabalhe" do golpista, ambos pagaram caríssimo por esses locais de destaque, um com uma pequena herança de alguns bilhões do pai, o outro com milhões de votos usurpados.

Grafites são outra coisa, outro design, outros objetivos, a valorização portanto é de outra ordem, de juízo de gosto. Como o Estado pode fazer para dar vazão a toda, ou às mais possíveis, formas de expressão? Não há outra finalidade pra nossa violenta e armada polícia militar do que atirar contra adolescentes, jovens e adultos equipadas de tinta e indignação? Mesmo contra os blocos pretos que atiram pedras contra os blocos cinza de concreto de empresas, e bancos, que agora terão apenas de usar de seus fundos para explorar ainda mais seus empregados sob ameça de desemprego e fome. Não há médico, cubano ou burguês, que faça o olho da jovem agredida por um militar voltar a enxergar.

Jornais constroem narrativas, não informam fatos, não são mais verdadeiros que uma poesia de Leminski ou uma pixação #ForaTemer. Quando falamos contra algo, nos posicionamos a favor de outro algo, e isto é importante, evitar a hipocrisia, reconhecer o classismo, o racismo, o machismo, o golpe, e se posicionar diante deles, negar as ideologias que tentam nos afogar, é isentar-se de responsabilidade e sucumbir a elas, mas resisti-las, nas ruas, na fotografia, nas urnas, é o bom encontro entre coração e ação.

25 abril, 2016

duas músicas

Horárcio vai à praia, caminha calmo,  o ambiente é turvo, caminha quase definido, o passo é firme, tônico, o repouso aos poucos se anuncia. Será esta a praia? Realizou seus desejos no processo, quando concluiu há muito já estava concluído. O que mantém o movimento é devir, parece que é aqui mesmo que quer chegar, quando o padrão se modifica as ondas suingam, sabe bem onde está mas só ficará aqui mediante novidade.
Um ritmo composto se impôs, é romântico. Claro, sempre se chega num clichê, o amor é o melhor deles, é dessas repetições que requerem novidade, coisa de mar. Nem sempre o romântico é amoroso, e vice-versa, é melódico, já o era, harmônico. Afastou-se, prudente, acidentou-se voluntariamente. Porque o deseja, o acidente, sente a falta da casa, daquele passo firme que o trouxe aqui. 
É grave o retorno, quando foi que ficou tudo turvo, de repente, parece que enxerga nada além de som, é dificil interpretar som. O retorno é mais curto que o motivo se apresentando, o mistério revelou-se, a entidade já assumiu sua presença inevitável, som, e brinca e vai embora, Horácio vai à praia.

A única repetição é a novidade, sob o sol, circular, pentatônico, composto e grave, como se tornar aquilo por que se vive, e enfim, morrer, claro. Pra quem vive, a lembrança, flor improvisada, buquê gabi, um fruto veneno amoroso, roba.

18 abril, 2016