25 dezembro, 2013

dialógica

meio assim
tom waits com jobim
jerry atrás do zé
punk rock e afoxé
de tóquio à trindade
stravinsky e mozart
lispector paquerando com quintana
platão apaixonado por muçulmana
um pouco de novela, um outro de futebol
pintado à aquarela, conservado em formol
meio assim, meio assado
é volumoso, é chapado
um grande amor desapegado
é alegria triste pra caralho

elogio íntimo


é complicado dizer isso
mas acho o seu cu lindo.

20 dezembro, 2013

Súbita poesia para a moça que passa

De vez em quando olho uma linda moça que passa
E só o que eu queria era poder fitá-la pelo resto de minha vida
Ver sua escura saia fina balançar ao leve sopro de meu levado amigo vento
Penetrar o soslaio de seu olhar que tenta brilhar pelo perfil de seus cabelos coloridos
Metros e mais metros de pernas que carregam toda a tristeza de estar longe de mim
Pra longe de mim.
                            Só, passa, já passou.
Tão linda quanto uma única flor repetida mil vezes
Escapada de um portão pátrio
Aberta, escancarada, arregaçada feito bico de pinto faminto
Úmido feito amor e saliva e choro e boas vindas
À tua frente os seios se mostram sempre
Em volume e lembrança, segura e criança
Balança com as batidas dos pés e do coração
Que cai e choca
E morre no concreto, nas pedras, nas cincas e no cinza do chão
Por onde passou.

10 dezembro, 2013

Pode curar gay
Pode curar viciado
Só não pode curar evangélico
Médico & advogado

Me processe
Quem não tiver errado

07 dezembro, 2013

presença ausente

o charme da saudade
é presentear a ausência
de quem se ama.

sad is
to miss:
said long
love lost.

02 dezembro, 2013

O mar bate

(Mar lon Oliveira)

O mar bate
nas pedras

tentando ser um
com elas.

(Lui bar bossa)

bate bate em vão
tolo mar se funda
vida e termina
praia em espuma
de morte e pedra

(Mar lon oliveira)
Mas ressurge
maré após maré!

- com Marlon Oliveira.

27 novembro, 2013

tati cor terra
tato @ topo da
(tópica)mente:
bele z  v em d
olhar pa lavra
alva luz dente

- de aniversário para Tatiana Rozenfeld.

16 novembro, 2013

quando te conheci
garota, eras
a mais linda, só
tinha olhos pra ti; a grama
dançava, os carros
paravam - até o som
do ar se ouvia - o infinito
mar aquietava pra te ou-
vir passar.

bobagem

parece bobagem
coisa pouca
mas é só no que penso

no ponto de ônibus,
dentro do ônibus,
escutando música,
olhando o mar passar,
passa uma, duas, passam
todas as mulheres
do mundo e eu só
penso em ti

até te imagino me dizer
é bobagem, larga disso
esse papo de amor tá com nada
o negócio é a boca
a boca

01 novembro, 2013

14 agosto, 2013

Ler move
a gente por inteiro

Ler envolve
ver palavra ouvir movimento

Ler é sentir
o pensamento

25 julho, 2013

15 julho, 2013

Florianópolis é uma cidade chata
Só tem ônibus e gente
Chata.

Até tem, em Floripa
Os melhores músicos do mundo
Até tem, na Trindade
Das melhores universdades do mundo
Até tem, na Armação
na Daniela, na Solidão
na Barra, no Ribeirão
na Beira-mar, na do Cagão
(N)as mais lindas praias
As mulheres do mundo.

Mas no global
Florianópolis é chata
Fina lisa escorregadia
Astuta careta antiquada
Monárquica do pior tipo.

Mas tudo bem porque a realeza já está velha
Daqui a pouco morre.

07 julho, 2013

Bebebem

Ela num bar qualquer
bebe com quem quiser
cai na vala onde couber
dá pra quem souber
apreciar corpo mulher
Ébria de vinho, mé
ou sem Baco até
sóbria, se assim vier
Porém ela faz é
tudo o que bem,
ou não, entende.

É clichê dizer
mas pra se viver
experimetar bem
Se ela quiser
Cagar os pé
Encher, mas encher
a cara, se entorpecer
Meu amigo, não será você
estorvo de seu prazer.

02 julho, 2013

Cultura

I

A vacina é a doença mais fraca
A aspirina, uma droga barata
A fumaça do tabaco não chapa
Nossas crianças mamam tetas de vaca

Ainda tem índio que não é brasileiro
E brasileiro que ainda é estrangeiro
Gaúcho do Rio de Janeiro
Nordestinos desse mundo inteiro

Papai mamãe acreditam na escola
Além da esmola, se aprende a jogar bola
E matemágica, coelho da cartola
Pra caixola, por/que cai na prova(?)

A televisão fala daquilo que sabe
O filósofo diz que nada sabe
A ciência diz que tudo é verdade
A poesia tigre dente de sabre

Quem comprou carro quer chegar bem mais rápido
Quem vai de bike, não se dá ao trabalho
Dentro do ônibus quarenta palhaços
Fazem fila, deixam às mãos os trocados

O médico tem poder de cura
Tira doença, faz sumir a loucura
O stress da tarde, quem é que atura?
A corcunda do camelo é cultura

II

Fungo na merda é cultura.
A língua francesa é cultura.
Clitorectamia é cultura.

Circuncisão circo pão rir ou não chamar de Rio Jordão Rio Japão comer parente comprar presente à juros futuro em Janeiro passado muro desejo espelho medo de tudo do incesto irmão ladrão do capitão cada qual com seu quinhão ou de quem vier primeiro.

III

O mesmo bicho
por todos os lados
nenhum repetido
senão são trocados
por poucos trocados.

01 julho, 2013

Função do psicólogo de RH

C o
      l o c a r  o  h o m
                                 em
              c e r t o
N o
      l u g a r                 in

29 junho, 2013

João de barro

Pobrezinho, bica o chão,
come pó pisado.

Ou será que leva terra
pra casinha, seu João
de barro?
Livre associação

Livre + Ass + Ócio + Ação

Livre: 1. do ato de não ter: direção, comando; 2. do ato de ser: algo ou alguém; 3. devir.

Ass: do inglês "bunda", ou "cu".

Ócio: 1. de não ter o que fazer e fazer: justamente isto; 2. do ideal Grego; 3 vazio por onde corre o Rio Criatividade¹.

Ação: 1. verbo; 2. falar; 3. agir no mundo; 4. potência.


Ação ociosa
sobre a liberdade anal
(sadismo pré-genital);

Dar-se conta da fala, da garganta,
dos esfincteres: controle
dos esfincteres;

Superar carência oral
de mamãe não dar
de mamar;


Admitir infant (sem fala (paradoxo: falar até dar-se conta de que não adianta falar))
ilidade genital.

 ¹ Quanto mais largo maior o fluxo, por conseguinte os acidentes decorrentes de mergulhos, surfes ou navegações imprudentes. 
Passou um passar
inho - ou avião? -
olhou pr'oposto
do céu e achou

o  l u m i n o s o  formigueiro

de gente lindo.

28 junho, 2013

No dia da divisão

O que passou
Jesus no pão?
Certo não
foi polenguinho
ou requeijão.

Deve ter sido
um outro tipo
de banha.

12 junho, 2013

Parece que enfim ela está me amando
Enquanto escrevo palavra texto
Ela ouve palavra canto
Som que sente
antes de te
r senti
do

10 junho, 2013

Aprender

:

Prender o A (B, C étera)

;

ou negar o que prende

¿

Inverno

Ventilador parado
porque é inverno.

Casaco nos braços
porque agora está quente e
porque é inverno.

As mãos entre as pernas
ou sem se escapulirem pelas mangas
porque é inverno.

Porque é inverno
se bebe vinho e quentão
e come paçoca e pinhão,
e pipoca, e
porque é inverno,
debaixo do cobertor
ou do edredon.

Morno infante
radiante verão
particular
(partícula por partícula
se encolhe, e se aperta)
aquece sob o cobertor
o corpo tremendo
ri do frio
porque é inverno
mas aqui tá quentinho.

Folhas secas pela calçada
não mais estão
porque é inverno
foram varridas
no começo da estação.

25 maio, 2013

Internet

Cérebro de Deus

A livre navegação pelos mares em redes
de sítio em sítio, no levará ao profundo
inconsciente de Deus.

in (conscien) te
in(cons[cien])te _ in(c{son}[cien])te
                        _ {som}

in(c{som}[cien])te _  in(c{som}[cien])te[cia]
                             _ [ciência]



24 maio, 2013

Lígia não existe

Lígia não existe. A prova disso é que antes de ela surgir na tela ninguém sabia de sua existência, e quando ela finalmente surge me vem a certeza: essa menina não existe, nem nunca existirá. Ela sabe disso. Tanto que quando tenta dar um primeiro passo dentro de sua existência, uma parte de si congela como que em dúvida sobre seu desejo de ir. Ir aonde? Lígia e ela mesma estão em uma praça, mas quando Lígia (ou ela mesma?) experimenta existir, eis que se encontra em um gramadão, um bosque.

O primeiro encontro de sua existência foi com um menino sujo de terra, mas que não se importa com a terra, tanto que para ele nem parece surtir incôodo de sujeira, a terra faz parte de si, de sua grande saúde - ele é a própria terra. O menino a oferece o contrário do fruto do conhecimento, ele a oferece o real, sem representações: a comida (vida), o gosto de sal (sabor que nos libidina, desejo que explicita a falta de sabor de existir realmente, falta que mostra adiante a morte, morte certa que torna urgente o desejo de ser feliz, de gozar), e um fumo (que sacia temporariamente a frustração de nunca, nunquinha, poder saciar completamente sua falta, pois que seria não ter mais o que desejar, o que a tornaria louca ou morta). O real não fala. Toda palavra é representação de um real inalcansável. Quando o silêncio, quando a realidade ameaça arrancar as entranhas de Lígia e levá-la a um êxtase de existência, ela fala. O tempo está passando. Você não entendeu nada! responde a terra à besta falante. Tempo... ora! Te ofereço a vida, elides a morte.

Um viajante tenta ajudá-la a acender o fumo, mas seu impulso que faz a máquina-fósforo entrarem combustão é ipotencializado pelo destino do vento. Então o viajante se dá conta. Se agora ele existe, antes não existia, e portanto... logo não existirá mais! Cadê outros fósforos? Acabou-se! As coisas estao deixando de existir! Acabou-se mais uma existência e logo mais será a minha!

Lígia corre. Antes estivesse nua pra não ter que usar um vestido que a esconde e a distancia do mundo onde quer ser existência. E ela corre. Não quer apagar-se como tudo o mais no universo. Que importa universo?

Bum! Eis que tromba com um palhaço no caminho, que se vira em sua direção, sorrindo, lhe oferece um isqueiro para acender o fumo. Ao olhar pra Lígia, insuportável beleza, se toca: as coisas deixam de existir quando paramos de acreditar nelas. Acreditar é amar. Não posso amar quem não existe. Preciso acreditar para amar. Não, Lígia não existe. O amor não existe! Um som surdo. Um anti-som. Palhaço desfia golpes de machado em Lígia e depois joga-lhe fogo e depois joga-lhe um balde d'água. Será que não morreu? Quem sabe. Lígia talvez nunca tenha existido. Talvez nunca tenha saído da praça. Mas é um alívio, finalmente o silêncio reina e começamos a sentir presente a ausência de Lígia. Dá saudades. De quem? De mim? Nunca houve ninguém ali. Ali, a li, li ia, lí g ia.

O pahaço toma o lugar na praça de lígia. Que lígia? O menino-terra senta ao lado do palhaço, e como se ninguém mais tivesse nome, como se ninguém mais fosse eu, inútil o menino diz: eu sou o universo, sou a coisa mais importante para mim, Lígia.

23 maio, 2013

Minha cara

Vem devagarzinha
Feito fosse minha
Feito um som
De cantar e esquecer
Palavra é máscara

Sopra cara minha
Tua voz macia
Esqueço um pouco
De tentar entender
Deixo a musa cantar


21 maio, 2013

Buquê de gabiroba

Se chover lá
Sol suspende a cor
O dó, a dor é bem maior
Que a Lua brilha nua
Sobre o céu claro de manhã

Sopra um vento
Um rio sibila
O corpo, o rosto morno
Margem noutro
Beijo a pele fria
Fora do lençol de manhã

Lembra de mim
Chora por mim
Lembra de um doce gosto azedo
De amanhã ser pensamento
Um buquê de gabiroba pra você

Viva por mim
Morra por mim
Esquece de


17 março, 2013


nessa horas da madrugada
sempre me vêm uma ou outra
árvore a fazer shh shh
mas não me calo não

canto e canto e não importa vizinho
árvore, pássaro, gato, gente, carro
só de madrugada chacoalham os chocalhos
soando as folhas shh shh

vez ou outra uns batuques de galho
de madeira do salto de piriguete
batendo no chão antes de bater à porta
tira os sapatos e esfregam as meias finas

shh shh
fodeu!
e freud?
freud é foda.

— com Natasha Horski
Se pode pé
pode ser mão
Se for olho
pode orelha
Se for nariz
Nariz será
Já, se for boca
pode ser cu.
O pau tá para os lábios
como a boceta
e seus os lábios
se beijam e se mastigam,
duros sem dentes dentadura,
se for língua lambe.
Pode ser umbigo,
e se for umbigo,
pode ter mãe
se tiver pai,
pode ser sorte.
Se for morte
só pode estar vivo
Se for, pode ser
acidente ou sem querer
querendo. Se for,
será triste se pôde ser feliz.

Se pode pé
pó de estar sob o chão
de pó, se for de estrelas
pode estar dependurado,
pode ser pelo pescoço
pode ser pela cintura,
se acorda, se não for corda
mas for amor.

10 fevereiro, 2013