27 dezembro, 2012


vim te
dar ador
ar amor
tecer -
te
ia;
te
cido -

vim ser vis
to que
ri do
ama
do
vivo por ti

26 dezembro, 2012

Como era mesmo
aquela frase de Nietzche
que fez mais sentido 
depois de voltar
do mar?

"Brincavam à beira 
do mar,
veio então a onda 
e levou
seus brinquedos para o fundo.
Agora choram.

A mesma onda, porém, lhes trará 
novos brinquedos e espalhará 
aos pés deles novas conchas 
coloridas.

Assim se consolarão, 
e vós também, meus amigos, tereis como eles
vossas consolações
e
novas conchas 
coloridas."

Lá estavam: eu
o sol, o mar e a areia
eu olhava o mar
e o mar me olhava de lá

pra cá, pensei:

Poderia estar brincando na areia
com ela, a divertida
como ela eu bem poderia
só ler um livro de poesia
ou do velho jovem Werther 
- tanto sofria
não sofre mais
matou-se.

Dei-me conta:
estou sozinho!
chorei c'as ondas
mas só um pouquinho
pois passou uma moça
de shortinho

Quisera Carlota
ser tão sensual
quanto as raparigas
de fio dental

Enfim, Zaratustra desceu
à praia da Daniela
hoje quando eu
o levei a ter com ela.
Conversamos sobre tudo
sobre:
amor
o mar
roma
arom
a de milho e churros.

Não falamos de meu amor 
amargo porque não quis lamber 
o assunto porque o milho estava 
amarelo e salgado, e amarelo 
o sol queimava meu cocuruto

Não falamos 
com amor
porque el no 
contestó.

12 dezembro, 2012

Eu quero ser uma estrela da pedra, neném




"I wanna be a rockstar" é um grito por liberdade tão urgente à adolescência que exterioriza a angústia em forma de gutural, pelo berro: nossa ferramenta, nossa arma mais primitiva, anterior à própria linguagem, quase “blablação” não fosse o significado da frase na língua inglesa, mas, em princípio, é como se o significado das palavras pouco importassem. O personagem rockstar foi o boêmio dos anos 90 (a música foi composta em 2002, na década seguinte, portanto o personagem do rockstar é como um resquício diurno, como se a década anterior fosse a "aurora" de minha atualidade; como se a década anterior fosse o dia, que forma todo o inconsciente obscuro, a noite atual, em mim, que alucina, sonha, com o ser rockstar nos anos 2000), o anarquista, o poeta, por quem as mulheres se atraíam apesar das roupas surradas e rasgadas e dos cabelos mal-penteados (seria justamente por isso que elas se atraíam? por parecer que precisam de mães, os rockstars? desejavam se sentir, com eles, a mais poderosa das mulheres: a mãe? cuidando dessa criança desamparada e angustiada que é o rockstar?).

Quando grito o que quero ser em outra língua imediatamente explicito (fico nu) que quero ser outra coisa que não isso que forçosamente sugere minha língua materna, minha mãe: quero renunciar a mãe, superar o desamparo, tornar-me o falo invejado; quero dominar a mãe, e por isso quero ser rockstar, possuir, dominar as muitas mulheres que se atreverem a serem minhas mães. Grito ao contrário do que me foi dado durante toda minha formação de sujeito, meu espírito torna-se leão e grita o sagrado "NÃO!" do Zaratustra de Nietzsche - nesta música meu espírito ainda não está pronto para se tornar criança, minha virtude não está tão potente.

"You want to hate, I don't wanna blame". Sou assim violento justamente por não querer sentir esse ódio por quem me tornei, apesar de em geral sentir que querem que seja eu seja odiado; e também não quero culpar ninguém, não me cabe culpar, sei que sou quem sou só por ser quem sou e isso não diz respeito a ninguém se não eu mesmo. E, como não sou mais cristão, e nem quero sê-lo, não me culpo. No entanto falo sempre na negativa, por isso tenho que ser agressivo, tenho que exteriorizar essa dor em força, quero produzir subjetividade, desejo; ação positiva contra o discurso-negativo: tenho que ser dialético para evoluir. "Listen what they say, what I told you: I wanna be a rockstar, baby. I wanna be a rockstar". Eu nem mesmo tenho assunto, é apenas isso que desejo, é isso que me falta: ser um rockstar, tudo o mais é anunciação: escute, escute... Mais uma grosseria minha, outra agressividade: chamo tua atenção, peço para que me escute, para então gritar em teus ouvidos o que quero: ser um rockstar. "Your life's so swell, well I don't really wanna live like that". Pois é justo isso: não quero ser bacana, não quero ser o bom vizinho, o que dá presentes à namorada somente nos aniversários; quero ser o amante! quero ser o poeta! (sei que Werther me entenderia) prefiro morrer a ser bacana (por fim a morte, sempre a morte no final, e somente com a morte se pode acabar).

Para mostrar que sei ser rockstar e que faço o que bem quiser eis que transformo a música em salsa, mas mantenho a mesma harmonia do grunge (assim avanç, vou mais além, sinto que supero um de meus ídolos, Kurt Cobain e seu Nirvana: quero, eu mesmo, tornar-me um ídolo), depois mais esta outra coisa (que era de meu amigo e me foi dado com carinho por ele, mas bem sei que nunca será meu, e por transferência me compadeço e me aproprio, agrego ao meu discurso; com a ajuda de meu amigo me torno essa outra coisa que quero ser, e como o amo, bem poderia ser ele, meu amigo, que me tornarei, por isso faço questão de usar o material que me oferecido por meu amigo) que não respeita a harmonia, sobe e desce cromaticamente, que se fortalece em dinâmica, de pouco em pouco, e cada vez mais, ralenta e... explode! em Tom Jobim. Ah, Tom... não quero sentir ódio, não quero culpar, escute... eu quero ser você! Só que do meu jeitinho. Ainda não sei qual é, por isso grito, por angústia, mas escute... estou tentando.

Eu vou ser um rockstar antes que eu morra.

Até que isso me mate, como o fez com todos os outros rockstars, boêmios, poetas, artistas e amantes: quero morrer de amor, não de ódio e culpa, de ser bacana. Produzir vida até que isso culmine em morte.

08 dezembro, 2012

r olhem melhor mulher r ehlum

te amo
me fez filho
fará pai

pra que sou
me diz: trai!
dá e mata fome

também é mãe
também é
também é irmã
e também é,
mais
é meu umbigo que me faz
ser mais
mulher.

06 dezembro, 2012

Por que será
que quando me querem
não as quero mais?
Aquelas que me ferem
feitas Vênus de peles
fazem-me capataz;
sinto-me incapaz
de ficar sobre meus pés
de ficar sob teus pés.

Tua beleza me assusta
E só és esta que és
Tão distante, tão arisca...

Não será eu
quem não se arrisca
a roubar um beijo teu?

02 dezembro, 2012

Sasha Grey

Sasha grey é uma atriz pornô que gosta do que faz, diferente de quem diz que gosta mas passa anestésico no cu para sentir menos dor. Ela grita e tem uma bunda linda e grande. Gosta de possuir e dominar muitos homens ao mesmo tempo (que mal são homens, porque não costumam ter rostos, apenas pau) e de ler Sartre. Aposentou-se antes dos trinta anos e fez muito homem gastar dinheiro só para fantasiar com seu gosto de mulher que gosta de dar - coisa que diz-se rara. Ela é linda e ja fui apaixonado por ela; tenho muito orgulho de sua profissão, de seus lindos peitos pequenos e de seus cabelos naturais na cabeça e na boceta. Já quis amá-la muito mais que qualquer atriz de novela.

28 novembro, 2012

o futuro não existe nem nunca existirá; o passado já foi, não mais está aqui onde estou neste momento, agora, já.


o futuro não existe 
nem nunca existirá; 
o passado já foi, 
não mais está 
aqui onde estou 
neste momento, 
agora, já.

26 novembro, 2012

alta imensa maior que o mundo mais linda que dinheiro mais alta que coqueiro mais verde que o sol mais azul baguaçu violentada como santa decaptada tosada assassinada de uma vida de séculos mais velha que eu e que qualquer gaúcho vivo que vai morrer apesar de achar que não quando matou minha irmã minha árvore frutífera que alimentava meu irmão pássaro que cantava pro meu id sonho que velava meu descanso sono que agora acorda ao som de máquinas monstros estão avançando pra cima de mim e de minha vó que podia já ter morrido para não ter que passar por isso mas fico feliz que não porque a amo a amo como amo a cabeluda gárgula vênus portal do meu lar onde sempre sempre sempre sempre sempre sempre vivi e morei mais ainda não morri será que querem me matar? acho que sim mas não vão conseguir porque o único que pode tirar minha vida sou eu meu amor e a árvore mas a árvore já morreu agora só no ano que vem do ano que vem do ano que vem do ano que vem de mais de cem anos daqui quando seus cabelos voltarem a crescer que mania chata essa a dos homens que cortam os cabelos e as árvores pra caber mais carro e mais vaidade e menos amor e menos fruta de verdade já que fruta no mercado é feita de dinheiro sem dinheiro ninguém come as frutas do mercado nem vão morar nos monstros edificados que gritam a noite como se chorassem e devem chorar pois deve ser triste ser tão odiado e tão rico ao lado de gente tão amada e tão rica de amor e de árvore e de gatos cachorros e não de yorkshires e palmeiras mas sim avaí e guarani do abraão não de coqueiros mas da praia do cagão.

23 novembro, 2012

Ao amigo que chora de amor (pela falta, por parte dela; por excesso por parte dele)

Ai, como entristece
quando de amor sofre,
e chora melhor amigo nosso
- quem não se compadece?

Pior maldade não há
que a da mulher
que não quer
nos dar
amor. Pouco importa
humanidade! De que serve
nossa vaidade?

Sofre por querer um querer seu
de ser diferente do que se é
por causa da mulher.

Chora, amigo meu.
Pois nunca haverá
alegria maior que a amar!

22 novembro, 2012

Concreto quando posto na parede não é chão. Telha quando em baixo da cabeça não é teto. O sol quando é de noite tá no Japão. Cu pode até ser torto mas tem reto. Pau fora da árvore pode ser palavrão. A vida não é curta mas há exceção. Quando se fuma a vida é curta. Quando se bebe a vida é curta. Ou quando se é atropelado por um caminhão. No futebol se chuta a bola, na de gude se dá petelecos. A estrela quando caminha é artista. Coco é paroxítono, Cocô oxítono e tem gente que acha nojento. Baratas são nojentas e não morrem com radiação. Gente velha há anos atrás era nova. Roupa velha quando dada para outra pessoa é nova. Quando algo não é coisa alguma ainda não é nada, nada não pode ser nada porque o nada não é.

16 novembro, 2012

chuva, mas que saudade.

chuva, que saudades tuas!
eu estava aqui, tão sozinho
o sono não vem, ninguém vem...
aí que tu me vem.

ainda bem que chegasse, eu queria mesmo conversar com alguém. sabe, tenho me sentido sozinho, dona. tu tá sempre acompanhada, não é? nunca te vi realmente sozinha, e só uns poucos te aceitam assim, como tu é. como Caetano cantou a poesia de Augusto de Campos e Péricles Cavalcanti: "(...) Nudez total: todo prazer provém do corpo (como a alma sem corpo) sem vestes. Como encadernação vistosa feita para iletrados a mulher se enfeita, mas ela é um livro místico e somente a alguns, a que tal graça se consente, é dado lê-la". só uns poucos te sabem ler, te ouvir tua voz. essa tua voz que é só tua, que todos conhecem, mas ninguém escuta. dizem: "é boa pra ninar", como se voz tivesse utilidade além de ser linda. a voz serve para vociferar, pra fazer soar, a utilidade da voz é existir como voz. ora, um mesmo canto em diferentes vozes viram diferentes cantos pois que o canto depende da voz. tua voz é linda e inútil, de tão linda. (como gosto das coisas lindas!; como gosto de ti!). já minha voz não. fico triste por não conseguir te cantar. e bem, é disto que quero conversar, justamente isto que me angustia: pra quem cantar? ó, dona... é triste não ter pra quem cantar e cantar pra ninguém. poderia cantar pra minha própria voz, pro meu próprio canto... hoje quero aprender a fazê-lo: cantar pra minha própria voz, já que é ela que canta em mim. mas eu e ela andamos de mal - eu e minha voz. veja só que arrogância: chamo-a de minha como se a possuísse, mas não é bem por aí. aliás, eis minha frustração: minha voz não é minha, é só dela, mas mora em mim. pra te falar a verdade, dona, nem sei bem do que falo (mas falo, porque meu falo é o que falo). sabe, é essa a confusão, é essa a solidão. tanto que converso (ou escrevo?) pra ti, minha única companhia. e companhia de todos os outros. ainda bem que a uma hora dessas te deixam cantar tão alto; cantas com, tanto cuidado, cuidado de mãe, esse teu, de cantar segura e forte, e ainda assim ninar uma multidão. se tu só pudesse ninar uma única pessoa, quem ninarias que honra seria! ó, que alegria! vê? assim que quero fazer alguém feliz: ofereço meu canto! e só. pequenino canto que tem voz, palavra, sentido, lógica, técnica, emoção, saliva, língua, atos falhos, sexo, medo, desejo, e não tem dinheiro. não gosto, não quero, não, não, não. minha voz é pra fazer amar. não é mesmo, dona? afinal, a essa hora quem não foi ninado está amando. só pode. ou chorando, mas chorando de amor: que é amar. ou então está no japão.

já vais embora, dona? gostei do papo. eu estava precisando. conversar com gente que não sabe cantar estava me cansando já. é sempre bom rever uma grande amiga, um grande amor. nessa época do ano tu canta com mais frequência, por quê? é sempre mais calor e talvez haja mais quem dance e quem ouça; no frio pode ser difícil escutar, porque os queixos batem, ou então o fogo faz barulho de fogo, ou então a touca tapa os ouvidos, ou então se escuta outra música, ou então se conversa, ou então se faz sexo, por isso no calor é melhor de te ouvir. as crianças não brincam quando tu está cantando, no máximo veêm um filme e tomam chocolate quente. ou então jogam video game. eu queria ir aí fora te dar um beijo de despedida, mas pode ser que eu fique resfriado, aí já não poderia mais cantar. por isso que estou te falando que quero cantar pra alguém que possa me ouvir depois de me beijar. isso é amor: utilizar de todas as maneiras possíveis todo o corpo e toda a alma; experimentar e se relacionar a partir de tudo e com tudo; descobrir eus novos em mims atualizados a cada canto através dos cantos. poder beijar, cantar, falar, lamber, degustar, morder, assoprar, sugar, sorrir, ou não, e ainda assim: amar.

tchau, dona. até mais. te amo.

olha lá, ela vai mesmo embora e bem devagar, elegante como só ela. por isso que eu tou aqui sozinho, grosseiro e mal vestido. pareço mal criado, não mereço mulheres assim, fortes, seguras e lindas como ela. não, não. vou pra sempre ficar olhando, encarando, contemplando daqui de dentro, e só. mas eu a desejo tanto e tanto, como eu queria que ela entendesse isso.


tudo isso é pra dizer que a quero, só preciso que ela cante pra mim. pra mim. não gosto que cante pra multidão e me deixe cá embaixo olhando e ouvindo, em meio aos ingratos, esperando que eu vá interpretar, ler sei lá em que linhas, coisas mal escritas, mal ditas; que eu jogue jogos cansativos, com regras rígidas e antigas.


quero um canto novo, só pra mim, e eu canto pra ti. teu canto só pra mim, meu canto só pra ti. teu só pra mim. meu só pra ti. canto. canto. meu. teu. só pra. só pra. mim. ti. sopra mim. sopra ti. sopra. sopra.

te amo.

(me ame. me.)
te amo.
te amo. te.

linda duvida vida linda

lindas morenas lindas
moças lindas línguas
lindas saias lindas
saia lindas saia
escreve linda
linda escreve linha
por linhas por lindas
nunca lindas minhas nunca
minhas lindas nunca minhas
linda a linda
ainda lindas femininas
femininas lindas
lindas meninas
linda antiga longínqua linda
morena menina feminina
lia e lia linda lia
queria linda minha
queria minha linda
sim sim som linda sim som são lindas
 inda   im   i    em   im
l        s      t   s     m
                                   li    a
                                     nd

10 novembro, 2012

Teus olhos castanhos
Cor de chocolate amargo
Cor de grão de café
Grão de feijão vermelho cozido
Cor de tronco de figueira
Cor da minha mesa de computador
Minha mesa de jantar
Cor de cocô
De casca de coco seco
Cor de barro
Cor dos meus

09 novembro, 2012

Álbum de amizade (declaração de amizade)

Mas, se não captar aquela pequena raiz, o pequeno grão de loucura da pessoa, não pode amá-la. Se não captar o ponto de demência de alguém… Ele pode assustar, mas, a mim, fico feliz de constatar que o ponto de demêcia de alguém é a fonte de seu charme.”
 Gilles Deleuze¹

Em comemoração de meus 25 anos.

Amizade é caótica, bagunçada (pois é livre). A fotografia de grupo pretende captar e organizar um momento aleatório, mostrar (nos mostrar) o conforto que é estar em contraponto (ponto contra ponto, em relação; ora consoante, ora dissonante, mas tudo em prol à retórica perfeita da canção que é a amizade), conforto que pode ora precisar que se "afofe" mais um pouco as almofadas.



Amizade é recente, sempre atual (o passado da amizade deve rumar ao inconsciente, fora do ego, dentro do amor); nos atualiza no instante, no "já" (conselhos e sugestões de como resolver problemas imediatos, sejam eles aceitos ou não). Ao conquistar (sem esforço, por naturalidade, por amor) uma amizade, automaticamente o conselho, a sugestão, ganha importância, relevância.


Amizade é romântica; causa estranhamento e encantamento, nos enrubesce; amizade supera o gênereo e transcende o sujeito: inventa uma relação que deve, a cada instante, ser reinventada (a fim de que a amizade dure ela deve se atualizar sempre: deve evoluir dialetica e dialogicamente). Como podem relacionar-se o homem e a mulher na amizade recente? Eis que procuram-se novos conceitos, novas poesias, mas nada deve substituir, nunca, a amizade: a relação amorosa não passa (muito) de uma relação de amizade ultra-íntima.


Amizade resiste distâncias, virtualidades: não posso esperar que o amigo exista como eu existo; o ato quase-amoroso (proto-amoroso?) da amizade é precisamente receber e se deixar ser afetado pelo amigo como ele se apresenta (ser sensível ao estímulo mais próprio, único, individual e louco do amigo); querer que o amigo viva meu mundo é querer um outro eu: "quero desvelar teu mundo, amigo meu!"


Amizade permanece eternamente, mesmo aparentemente sem motivo (especialmente quando não há motivo): por que me afeiçoo por tal amigo? Por que permito que uma pessoa com a qual convivo, forçosamente muitas vezes, me conheça tão intimamente? Amigo não confia, não cobra confiança: a intimidade da amizade é tão clara quanto a da relação amorosa (ora, atreva-se a fofocar sobre minhas intimidades; não faz sentido trair um amigo).
"Fazer amor", na amizade, pode ser simplesmente 'rir': há quanto tempo rio com meu amigo? Quanto tempo mais vou continuar rindo? O riso dos que são íntimos (dos que conhecem segredos) tem intensidade própria, diferente do riso de prazer razo. O riso amigo não precisa de foco.


Amizade se dilui pelos vários anos que dura: sua intensidade nem sempre está na quantidade de tempo que se esteve junto, mas o próprio fascínio pela duração nos faz desejar estar junto um do outro: para sempre quero ser teu amigo para saber por que sou teu amigo, por isso planejo encontros, festas, bares; invento até mesmo amores, casos e problemas só para poder ter assunto com esta pessoa que amo tanto: meu amigo.


Amizade é divertida e despretensiosa. Estamos juntos nos momentos mais divertidos, principalmente as diversões importantes da evolução da vida social e profissional; participo, bebo, grito, rio nos mais importantes rituais (de formação profissional, acadêmica; aniversários, casamentos, nascimentos); não há nada que eu deseje mais do que estar vivo no teu velório (quero poder organizar teu velório), talvez o ritual mais importante de nossas vidas, e com certeza o ritual mais importante de nossas mortes; não suporto a ideia de te ver triste com minha partida, prefiro eu mesmo, na condição de teu amigo, suportar tua ausência terrena.


Amizade supera o gênero, transcende a sexualidade. O amor do amigo é como o amor de família: carinhos e cuidados infinitos. Supre todas as carências: emocionais, cognitivas e orgânicas (vitais): o amigo ama, ensina e dá de comer e beber. A amizade se torna como uma família, podendo o amigo se tornar um irmão - discute, discorda, e se apazígua no jogar videogame, no ver filme -, um pai (recrimina as ações aparentemente venenosas, dá conselhos rispidamente preocupa-se com a evolução viril -, uma mãe - se oferece a cuidar do que é mais caro e vital ao amigo -, tio, tia - deve ser aquele que apresenta e oferece o que os pais, por moralismo da posição paternal ou maternal, jamais se permitiriam se responsabilizar por pôr no mundo do filho -, vô, vó, cachorro, etc.


Amizade é produtiva, inventiva, criativa; produz desejos, devires. A própria relação dos amigos deve ser uma forma de obra de arte (original, em primeiro lugar), e como toda arte deve ter vida própria para além do "autor" (a relação de amizade): quero mostrar ao mundo nossa amizade; quero que nos vejam como Gil e Caetano, como Deleuze e Guattari, como Dionísio e Apolo.


Amizade é conflituosa, e a superação (resolução) de um conflito o faz se tornar uma anedota: "lembra-se de quando brigamos por aquele motivo banal? Como éramos crianças! Amigo, como fico feliz de ter superado isso ao teu lado": só com um amigo consegue-se superar conflitos e com estes gerar intimidades (quando brigo com um colega, imediatamente torno-me indiferente; já com um amigo, quando brigamos, nos odiamos para que o espaço do amor não permaneça vazio).
Distanciamo-nos um do outro, mas graças à relação de amizade deduzimos que o outro tenha seus motivos, e sabemos também que ele sabe que temos nossos motivos (o amigo não precisa que esses motivos sejam nobres pois eu o amo, e no amor tudo se justifica, inclusive a ausência).


Amizade é sóbria e profissional: devido as infinitas subjetividades, devo, na condição de amigo, me adaptar a relação, e encontrar a maneira mais potente de me relacionar com o amigo: não forço situações, quero que o amigo seja Outro (ele mesmo, no caso), e não eu mesmo: não quero que o amigo goste do que eu gosto, mas fico feliz com as coincidências; as coincidências coincidem nosso repertório de assunto.
Por alguns instantes, em algumas situações, sinto que tenho algo a ensinar ao amigo (quanta audácia a minha!), e o incrível acontece: o amigo, atencioso e carinhoso como uma mãe, aceita minhas sugestões e admite ter aprendido comigo; o amigo nos satisfaz; o amigo é como a mãe que se permite aprender com seu filho, e com os filhos dos outros.


Amamos quem ama quem amamos: como pode meu amigo amar tanto uma outra pessoa? Encanta-me este amor deles onde não estou. Eu poderia ter ciúmes, mas por fim percebo a alegria produzida a partir dessa relação (que não é minha, não é nossa: é deles, e é exclusiva) afeta a relação com meu primeiro amigo, como se meu amigo me amasse ainda mais por amar outra pessoa. Por fim que surge o maior encantamento: este amigo que ganhei como que um brinde, um presente, mostra-se tão interessante que eu mesmo desejo me relacionar para além do primeiro amigo (que ama e é amado por esta nova pessoa) e a cada encontro essa nova amizade evolui. Percebo, então, o que tanto apaixona o primeiro amigo nesta nova "amizade": apaixono-me também, de outra maneira, sem a intimidade amorosa.
(Desde que se permita e se esteja sensível a estímulos diversos toda relação que compõe um corpo irá compor todos os corpos que formam o que poderíamos chamar de "coleção de amigos")


Amizade é saudade, para sempre. Mesmo ao teu lado agora, na atualidade da nossa relação, fantasio nossa relação mais primitiva: sinto saudades, agora, de ti ao teu lado, agora. Quero poder sentir saudades de ti sempre, eis a amizade: não te quero como fosses, mas como és, e (in)felizmente és outra pessoa. Inventamos novos jogos, novas relações, novas formas de intimidade.
(Os afetos mais fortes são aqueles inexplicáveis, não é à toa que para se falar de amor precisa-se de uma obra de arte, pois o discurso (a dedicatória) nunca é suficiente. Nossa relação é tão intensa que não me atrevo a falar dela, sempre que o tento sinto-me cafona e fraco, eis porque preciso de nossa amizade: quero ser clássico e forte.)


É necessário que se discorde do amigo: quero crescer junto dele. Irrito-me a cada sinal de infantilidade, sinto-me um pai (as relações na amizade se refletem como na família, mas se desenvolvem de outra forma: não posso me atrever a moralizar meu amigo, ainda assim o faço). O amigo me estimula a pensar de forma nova, a aumentar meu mundo; aponta minhas contradições, fico então curioso: quem é este que não sou eu mas que me aponta com precisão? É o amigo.


Amizade dura: é antiga, presente e futura. Conheço seus gostos antigos e compreendo seus atuais; tou sempre consultando o amigo para afirmar meu bom gosto (da família eu resisto, do amigo eu absorvo).
Amizade é infantil: o "outro", o amigo, permite (muitas vezes apenas reconhece assim) que sejamos a criança de quando se tem as melhores lembranças juntos (a amizade é relação nostálgica; relação de passado no presente).

04 novembro, 2012

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sente

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30 outubro, 2012

linda, mimosa e dengosa (a vaca)

Tão linda que tu és, nunca reparei em ti. Tão óbvia tua cara, nunca reparei em teus olhos e te comi como como (se fosse) qualquer (outra) coisa. Te substituo assim, por qualquer piranha - mas não vivo sem ti.

Pobre de ti que do mundo não sabe nada!

Eu quero te comer todinha. Te saborear, possuir tua carne e tua beleza. Doar todo meu corpo para o ato de te comer: te amar. Quero te forçar para dentro de mim, te mastigar como se te beijasse - ou beijar como se mastigasse.

Pobre de mim que de ti não sei nada!

Teus olhos sequer existiam. Olhos, só os meus. Jaboticaba sempre foi fruta e mais nada. Aliás, fruta que nunca comi. Pobre de mim! Nanico ao teu lado; minha poesia e meu intelecto jamais teriam qualquer serventia para ti (jamais eu conseguiria compreender teu mundo); para ti sou apenas pequeno, fraco e sem chifres.

Querida, quero aprender a te amar. Mostre-se a mim! Juro que vou te procurar, a ti me devotar: mirar bem em teus olhos - morrer de medo de ti - sentir teu cheiro e dizer que te amo. Ninguém entenderá nosso amor. Nós mesmos não poderemos entendê-lo, e por isso vamos passar o resto das nossas vidas nos  pesquisando, nos experimentando, tentando entender, nos apropriar do amor: nosso amor.

Pobre do amor que não pode ser esse nosso.

Chamariam-no de outro nome. Loucura, libertinagem, falta de amor. Nunca admitiriam ser amor. Ninguém entende que não basta te comer, tenho que olhar em teus olhos melancólicos e amar tua tristeza de ser uma vaca. Ninguém entende que não basta seres útil e gostosa para mim, quero teu olhar de volta em meus e quero que ames minha melancolia de ser homem. Quero que me livres da pobre condição de ser homem: quero ser vaca como tu. Carregar tuas tetas e nossos filhos. Carregar toda tua dor contigo, e me oferecer como comida quando estiveres com fome.

Antes de tudo, quero te olhar, e ter certeza de que não sou eu quem está aí.

(Floripa, 4 de Outubro de 2012.)

29 outubro, 2012

Auto-retrato


Auto-retrato
Bic preta no "caderninho".
Florianópolis, 26 de Janeiro de 2012.
É só saudade
aquilo que se tem
culpa de ter perdido.

Um grande amor é assim mesmo:
tão complexo, e tão (i)ma(e)nso,
de carinho, (se) mata a golpes lentos.

(Florianópolis, 13 de Março de 2012)

27 outubro, 2012

... espera a palavra certa.

A noiva no altar
O avião parado na pista
o poeta ébrio
o paciente sóbrio
o aluno e seu tédio
A mamãe de seu bebê
O eleitor alienado
O surfista no radinho
O estressado no trânsito
Aquele ajoelhado no templo
O curioso no livro
Aquele que vai
O triste que fica
O doente na cama
No conselho do amigo
No dia de seu velório
O colecionador de pássaros
Aquele que pede comida
Quem se acha feio
Quem se acha linda
Quem não quer saber nada

de repenteu eu

de repente me bateu uma saudade
de te beijar
de te abraçar
de te falar
de te olhar
de estar contigo

de repente me bateu um ciúme
de que te beijem
de que te abracem
de que te falem
de que te olhem
de ti

de repente me bateu uma raiva
de que eu não te beijo
de que eu não te abraço
de que eu não te falo
de que eu não te olho
de ti

de repente...
teu beijo
teu abraço
teu falar
teu olhar
te amo

26 outubro, 2012

Como fazer uma mulher se apaixonar em menos de uma semana.

Beije-a publicamente na Quarta-feira. Tome especial cuidado para que alguém próximo e querido dela entre em contato com vocês dois, juntos, durante esta Quarta; não a beije ou segure sua mão em frente ao tal amigo, mantenha-se sereno, distante e observador, a moça se excitará com o mistério projetado sobre o bom amigo (mistério falso, pois tua postura viril deve deixar clara tua intenção de beijá-la antes que finde a Quarta-feira). Assim que o cenário estiver parcialmente (certa dose de aleatoriedade é necessária a fim de que não dê a impressão de ser uma cena de filme clichê demais, ou um teatro de interpretações exageradas não convincentes; a grande dificuldade da cena romântica: parecer real). construído leve-a para qualquer lugar em que vocês dois não se sintam hostilizados (longe de semi-conhecidos, longe da possibilidade de encontro com familiares ou bons professores) e, enfim, a beije - não esqueça do óbvio que é o homem ter o dever de tomar a inciativa do beijo, Demonstre, quase que agressivamente, suas intenções sexuais com as mãos e pelvis; não seja carinhoso demais nesse primeiro beijo, ela pode assustar-se, ou pior, satisfazer-se.
Na Quinta-feira suma. Não dê sinal algum de interesse, afinal o beijo de ontem era tua comprovação de interesse; a ideia "interesse" já fazia parte do campo da relação de vocês desde o encontro*, e principalmente após o beijo, ou seja: o desejo, de um ao outro, foi criado no mundo das ideias, platonicamente falando. Todos sabemos da tendência contemporânea das mulheres de viverem amorosamente na fantasia, no ideal, por isso aparecer-se para ela como amante para ela logo no dia seguinte é tornar essa fantasia real, tornar o sonho real; ou seja, tornar-te-ias o ideal, utópico, irreal, inexistente: deixarias de existir; ser o agente realizador de sonhos é deixar de existir, tonar-se uma espécie de anjo, casto; o príncipe nunca transa com a princesa, nem sequer a beija com paixão, o que se mostra nos contos de fada é um beijo inocente que pretende, unicamente, salvar a princesa de algum mal que ela mesma, sozinha, não teve responsabilidade (habilidade de resposta) para solucionar, e a história acaba logo após o selo. Assim saciado o desejo, realizado o sonho de menina de rever o príncipe encantado logo no dia seguinte, a mulher passa a desejar outra coisa (assim como um bebê para de chorar, para de sentir falta, e de acordo com Freud, de desejar, e até nega comida assim que tem sua fome saciada, e passa então a desejar outra coisa, dormir talvez.).
Passada a Quinta-feira ausente, não a procure também na Sexta-feira - nada mais óbvio (entediante), e o óbvio nos parece detestável, que o dia seguinte ao seguinte. Demonstra falta de virilidade, como se se pedisse perdão por ter lhe faltado romantismo quanto se teve a chance (ligar no dia seguinte é um ato de romantismo). Saiba: ela comentará sua ausência com os amigos, e com maior cuidado e acanhamento o fará também para aquele que os flagrou na Quarta. Reclamará demasiadamente, e isso te fará ocupar-lhe o pensamento de forma intensa (a potência do afeto deixa mais resquícios que sua qualidade).
O grande segredo da conquista está no final-de-semana. Tenha a destreza de um dançarino, ou de um ninja, de que ela tenha uma forte impressão de poder te encontrar em algum evento: balada, festa de amigo em comum, ou qualquer outro local social alegre e prazeroso (ora, de que serviria encontrá-la em um velório? seria intimidade forçada; a velórios só se vai em companhia depois que a intimidade já foi conquistada pelo casal): comente com ela, ainda na Quarta-feira, sobre alguma banda (mesmo que ruim, pois eis a estratégia de se levar a moça em cinema para assistir um filme ruim: fica subentendido que o que importa não é o filme, mas o ambiente escuro, as poltronas próximas, o som alto e, principalmente, para ficarem juntos) que irá tocar naquele final-de-semana, lembre-a do amigo em comum que completa anos por esses dias, etc. Não dê certeza, de jeito algum, de sua presença. Menos ainda a pressione questionando sobre a presença dela: ela irá - esta certeza tu podes ter - e ainda será a mulher mais linda do local: tu a reconhecerás melhor por sua beleza irreconhecível que por semelhança com a bela moça que durante a semana beijaras. Ela estará vestida de forma que partes de seu corpo fique elegantemente à mostra; rosto pintado como a uma pintura clássica; cabelos sedosos sensualmente dispostos (dificilmente ela estará com cabelos soltos; os cabelos soltos são código de disponibilidade, os cabelos arrumados, o penteado, são código de dedicatória) para acentuar-lhe a beleza do rosto; unhas das mãos pintadas em consonância com suas intenções (alma e corpo da mulher são elegantes, mas as mãos - mãos cujas unhas te arranharão logo mais - de uma libertina, de uma pervertida); unhas dos pés também tão bem cuidadas quanto todo o resto do corpo, no entanto estas só serão exibidas juntamente com seu corpo nu (os enfeites nos pés não servem tanto para a ação de conquista, mas já para a consumação do conquistado). As unhas, das mãos e dos pés, trabalham, esteticamente, em relação à lingerie (ao que tapa e enfeita o genital, que é justamente a localidade da sexualidade adulta), eis por isso que mãos bem cuidadas são tão sensuais, e pés chegam a ser fetichizados, podendo até fazer uma mulher parecer vulgar (por ficarem distantes da cabeça que é onde se processam as percepções; é mais fácil, menos íntimo e nada vulgar segurar mãos, acarinhar mãos, beijar mãos, diferente do que seria segurar pés, acarinhar pés, beijar pés).
Chegue nesta festa do final-de-semana sem avisar e vestido casualmente, mas faça-se cheiroso (o perfume deve parecer mais caro que o próprio carro; teu cheiro deve demonstrar mais poder que tua posse, pois esse diz respeito ao teu corpo, ao que ela quer possuir ainda esta noite, enquanto o carro é artefato substituível). Não chegue muito cedo, mas tome cuidado também para não chegar tarde demais> ela pode queixar-se de ti para um outro que a conforte; ela pode ficar com a impressão de ser tua segunda opção ("O que ele tem de melhor pra fazer do que aproveitar cada instante aqui comigo?"); ela pode, ainda, perceber o jogo e desencantar-se com a confirmação da mentira (ora, toda mentira deve parecer verdade, eis o encantamento paradoxal).
Nesta noite tu irás conhecer as unhas dos pés da bela moça apaixonada. Como irás tratá-la no dia seguinte ao da festa (maquiagem borrada, roupas socadas; máscaras e fantasias quebradas, rasgadas ou simplesmente guardadas) irá funcionar como que em um experimento químico, e este tratamento é como a energia - o fogo, o frio, a manutenção de movimento - necessária para que a reação química dê resultado. Até então se estavas apenas como que coletando material, medindo as quantidades e os dispondo em um mesmo recipiente (o quarto, o carro, etc), a reação resultante desejada, "mulher apaixonada", se dá apenas após o descanso: o ato sexual ainda faz parte do campo da conquista, somente no pós-sexo (que obrigatoriamente deve ser o "dia seguinte" caso se queira que a mulher se apaixone de fato) é que se forma o composto "mulher apaixonada". Por isso a trate bem, seja cortês: acorde antes dela e sirva-lhe café com bolachas, ou pãezinhos frescos, geleia, manteiga; deixe a disposição opções como sucos, iogurtes, achocolatado, e o que mais lhe vier à cabeça - todos os produtos exibidos devem ser de extrema qualidade.
Feita apaixonada a mulher desenvolve-se outra dificuldade que é a manutenção dessa relação. Tome demasiado cuidado, não mais com a destreza de um dançarino ou ninja, mas de um artista completo: poeta, músico, pintor, ninja, cientista, filósofo, etc - tudo ao mesmo tempo. Inúmeras variáveis surgirão que poderão interferir e reagir com a relação estabelecida entre vocês, como um amigo apaixonado, ou um ex-namorado.  A agressividade e a virilidade são necessárias para este primeiro momento da relação amorosa, que é mais perversa do que propriamente amorosa. Por isso, ao tornar-se artista a fim de desenvolver a relação, deve-se ao mesmo tempo ser poeta e tarado: a perversão do poeta não é suficientemente pervertida, por isso, inclusive, a dificuldade que algumas mulheres encontram de perceber a paixão da carne de um poeta (a paixão no discurso e na ideia se percebe imediatamente); ou então ao contrário: estranha-se tamanha perversão-não-perversa-amorosa e chamam ao poeta de cafajeste); o artista tende, também, a começar sua relação pelo fim, pelo amor, por isso, logicamente, terminam no começo: na paixão (o artista sofre eternamente a paixão, diferente de quem permite que a paixão morra - transforme-se? - a chegada do amor); no entanto o amor do artista não morre nunca, diferente daqueles que carecem de paixão, e por nunca deixarem de amar os artistas tendem a ter muitas amantes e por colocá-las em suas obras, o que as enciuma umas às outras e as distancia (mas estas mulheres nunca diminuem seu amor pelo artista, pois é absurdamente honesto e por isso é irrefutável, e assim inesquecível).

Eis como fazer uma mulher se apaixonar por ti em menos de uma semana. Agora, fazê-la amar é outra história.

*Em inglês a palavra "date", que se traduz por "encontro", já supõe um encontro de paquera, de intenções românticas, sexuais ou amorosas, e é dessa forma que uso a palavra "encontro" aqui.

quem sabe se...

talvez eu esteja fazendo tudo errado 
e você nunca mais me beije de novo 
mas eu não resisto, não consigo! 
quem sabe se eu me trancafiar no meu quarto... 

não me peça ajudar pra decidir 
eu sei exatamente o que eu quer 
oo meu medo é que você também saiba o que quer 
quem sabe se eu me trancafiar no meu quarto... 

você sinta falta de mim 

quem sabe se você sair sem mim... 
você sinta falta de mim 
quem sabe se eu sair sem vc... 
você sinta falta de mim 
quem sabe se você conhecer outras pessoas... 
você sinta falta de mim 
quem sabe se eu conhecer outras pessoas... 
você sinta falta de mim 
quem sabe se você se apaixonar por outras pessoas... 
você sinta falta de mim 
quem sabe se eu me apaixonar por outras pessoas... 
você sinta falta de mim 

quem sabe se eu me trancafiar no meu quarto 
você sinta pena... 
você sinta ciúmes... 
você sinta falta... 
você sinta amor por mim

não queria, mas sei

eu sei, 
é difícil pra mim, 
e eu sei 
que tb é difícil pra você... 
mas quem sabe 
é assim que tem de ser.... 

espere, páre e pense 
sem ninguém, nem eu 
não deixe nada a influenciar 
eu quero a maior das sinceridades 

quando você conhecer outro cara 
você vai pensar em mim 
quando você beijar outro cara 
você vai pensar em mim 
quando você ser tocada por outro cara 
você vai pensar em mim 
quando você tocar em outro cara 
eu me mato 

é foda que as coisas tenham que ser assim 
eu te amo, mas você não sabe se gosta de mim 
seria mais fácil se você pudesse me amar também 
mas acho que infelizmente ninguém manda nessa bosta de coração, ninguém