30 novembro, 2017

Atos mentos

Contra fatos não há argumentos
Contra atos não há fragmentos
Contra matos não há jumentos
Contra jatos não há monumentos
Contra gatos não há armamentos
Contra fartos não há alimentos
Contra patos não há pavimentos
Contra natos não há momentos
Contra ratos não há lamentos
Contra hiatos não há tormentos
Contra altos não há ornamentos
Contra chatos não há cabimentos
Contra pratos não há condimentos
Contra ingratos não acampamentos
Contra astros não há sofrimentos
Contra atos não há mentos
Contratos não aumentos

29 novembro, 2017

medo terrível.

já vinha se anunciando há uns dias, minha irmã e minha namorada viram. parecia que elas haviam se livrado, mas toda vez que via a basculante aberta sabia que poderia entrar. medo não me vê, nem quando miro, eu que enxergo por todo poro. o gato também viu, suspeitei. medo nos pega nu, fui chapado mijar e estava lá. armei, precisou quatro, nenhum fatal, mas há um corpo imóvel, queria que fosse o meu amedrontado, mas estou só contra medo, infeliz preciso agir. os gatos levaram medo pra sala, está lá de barriga pra cima, ainda se move, vai que se recupera, devo matá-lo. mais dois golpes, não olhei pra ver se está morto, mas não tem por onde viver, a basculante está fechada.

15 setembro, 2017

Movimento Brasil Livre de Arte


Começa assim... o grupelho de moleques paranoicos MBL - Movimento Brasil Livre promovendo histeria, um influente grupo financeiro como o Santander Brasil acatando com supostas pressões de clientes moralistas, com argumentos da pior estirpe da cristandade hipócrita. Os ideologizados defendem suas projeções do que entendem por liberdade e por expressão, dizem que Kim Katupiri e o banco que lucrou bilhões em tempos de crise sem produzir absolutamente nada não têm autoridades de censores, pois não são agentes do Estado, então relativizam seus preconceitos e comportamentos de tais.

Eis que em Floripa uma agente do Estado, delegada de Guarda Municipal, ébria de ignorância, como jurada de um festival de música ruim, decide quais gêneros podem ou não serrem veiculados.
A distopia não é literária, o exercício da escrita é pessoalmente a fim de catarse e reflexão, agora agentes do Estado, polícia civil, afanam, ou como diz o boçal juridiquês, apreendem uma obra de Arte. A exposição já durava meses, mas a imposição foi dias depois da ridícula cena dos neo liberalistas apartidários financiados e eleitos por partidos políticos.

"Antes mesmo da polícia chegar ao local, a direção do museu já havia imposto censura para menores de 18 anos à exposição. Além disso, a sala onde ocorre a mostra recebeu película escura nos vidros das portas."

Foi quem quis, e quem quis ir deveria ser maior de idade, e provavelmente saberia ler que na obra chamada Pedofilia havia os dizeres machismo mata, violenta e humilha. Me parece absolutamente incoerente a interpretação de deputados estaduais, que eu nem sabia serem críticos e analisadores de obra de Arte. Aristóteles teria inveja de conclusão tão assertiva.

"Os deputados classificaram a obra da artista como promoção 'de sacanagens e desrespeito à família e aos bons costumes'."

Anotem aí, amigos, novo tipo legal, sacanagem. Está proibida a sacanagem, falou? Saibam também que há deputado do PEN ocupado com o tema da masturbação, deve ser urgente.

Para outros amigos, insisto, Arte não faz apologia, pode até fazer como no Manifesto Antropofágico, mas ela não serve a isto nem àquilo. Há milênios toda sorte de sujeitos se ocupam apaixonadamente pelo tema da Arte, deem licença a minha hipérbole, mas não serão vocês, nem as crianças prodígios da direita neo liberalista brasileira, a definirem o que pode ou não um Artista, simples assim. Apologia faz deputado federal ao dizer que autores devem ser fuzilados (http://www.uai.com.br/app/noticia/series-e-tv/2017/09/15/noticias-series-e-tv,213410/bolsonaro-diz-que-tem-que-fuzilar-os-autores-da-queermuseu.shtml). Isto não é liberdade de expressão, é apologia ao ódio, à morte, é estupidez e mais nada. 

Arte, quiçá, revela a canalha de uns e o brio de outros, não sei, se pá.

https://www.campograndenews.com.br/cidades/capital/policia-ve-incentivo-a-pedofilia-e-apreende-quadro-exposto-no-marco

27 agosto, 2017

Os piores filmes

The Room, porque é ruim em tudo, não há nada, é esqueleto de um corpo doente, um clichê, desnutrido, come qualquer coisa. Enredo fraco, personagens ruins, cenário qualquer, texto mal escrito, fotografia sem propósito, som mal colocado, edição mal feita. Mas este filme nos revela segredos, a virtude de Wiseau é fazer da pior maneira o possível o que a Globo e Hollywood se esforçam para maquiar.

Eu não faço ideia do que estou fazendo com minha vida, de Clarice Falcão, e de fato não sabia, nem deveria tê-lo feito. É parecido com The Room, não há o que assistir, mas compadecemos porque ela tenta, é deprimente. Tenta fazer diálogos que interessem, reflexões cativantes, tenta, logo não consegue. Wiseau não tenta, faz, e da melhor maneira que consegue, sozinho, e compôs algo imbatível. Este filme da ex Porta não tem porque.

Minha mãe é uma peça deveria ser drama. A personagem mãe do autor é tão preconceituosa, tão grosseira, asquerosa, é sujeito mais desagradável que David Brent ou Michael Scott, com a diferença que neste filme da Globo a piada não é o palhaço do canalha que faz piada com gordo, mas o próprio conteúdo da piada, como se a expressão rolha de poço ainda tivesse algum resquício de graça. Nunca teve e não tem. A mãe passa o filme inteiro humilhando os filhos gay e gorda, sem dar a mínima atenção para o adulto, hétero, casado, sob a justificativa de que este já está resolvido. É uma mãe que ignorou o filho que fez como ela queria e humilhou os que não quiseram ser ignorados. Há mães assim, que amam no abandono e na humilhação. Não entendi a comédia do filme, uma única cena em que a tal mãe conversa com sua irmã e falam mal de homem, ali ouvi piada, clichê, mas com alguma graça. Não terminei de assistir e acho incrível que haja continuação. A única atriz que nos convence de ser o personagem que é é a gorda, boa artista, mas não sei como se prestou a tamanha humilhação.

Nunca assisti Transformers, não lembro de Velozes e furiosos, e outros como Homem de Ferro 2 e os novos de super heróis, tenho certeza de que todos merecem lugares em listas deste tipo, mas não pecam em produção e costumam agradar parte da demanda, o grande defeito é serem tão comuns e irrelevantes, são mais caros, mas como entretenimento não são tão diferentes de programas domingueiros de auditório, o público é que é diferente, a oferta só se adéqua. Blade Runner não mereceria estar nesta lista, mas não suportei terminar de assistir.

Ontem assisti o francês Raw no Netflix. Não sei em qual o gênero pretende se encaixar, mas é o mais aterrorizante que já vi. As cenas do trote universitário, o professor cuzão, tudo nos deixa angustiados e ansiosos. Eu deveria ter percebido que seria um terror, gênero que detesto, na cena da biblioteca, em que o diretor coloca a irmã da protagonista para nos dar um susto gratuito. Nada de mais, gratuito mesmo. Não consegui me manter fitando a cena em que personagem vomita o muito cabelo que comeu. A última cena que suportei foi a em que a irmã mais velha força a virgem mais a nova a se depilar, sob a justificativa de que todas as meninas fazem, em nome da abstrata beleza. Não bastasse a tortura da própria dor física de depilar-se a que muitos se sujeitam, a protagonista o fez contra a vontade, suportando a tortura de não negar uma gentileza da irmã em nome de um padrão. Após alguns golpes de cera, a irmã mais velha percebe alguma merda que fez e decide usar uma tesoura grande e de ponta para concertar sei lá o que próximo à vulva da irmã. Talvez este seja um filme sobre o pior possível, se na ausência dos pais só ocorresse o pior. A caçula grita uma frase que devia ser simples a toda mulher entender, minha vagina, e chuta a mão da que empunhava a tesoura decepando a ponta de um dedo. Não consegui nem parar o filme, a Jhu que o tirou, meu desconforto foi tão grande, senti ânsia de vômito, pernas fracas, mãos trêmulas, fiquei não sei quantos minutos no banheiro chorando, e não à toa este é o parágrafo mais longo deste texto inútil e catártico, a angústia é real, este filme é terrível. Talvez seja a proposta, é infinitamente pior que a fantasia de Jogos mortais, ou mesmo a crueza de Faces da morte, foi uma das piores experiências que vivi, pior que parque de diversão, pior que descer o fosso de luz do meu prédio para resgatar o Pipoca, este filme me assustou mais que apanhar, foi um golpe nalgum trauma com que não quero lidar, não recomendo a ninguém que sinta.

14 agosto, 2017

Rádio univer si tária

vim te ver
santa e bela
por ela mais vinte
dedos na tecla,
na tela, no ouvinte

vou fugir dessa mesmice à educação
perder um pedacinho de certeza lá no fundo do mar
lançar por esse estado mais mil formados
pra fazer desse cristal espelho sabão

vinte anos
somamos
ao termos mais vinte
danos, sopranos
compramos requinte

nas manhas do cu do mundo
belezas ímpar
vagabundas confessas
fronteiriça litorânea
uni versos idades
no universo de lages
hoje tou triste, pecador
perdi meu emprego, chicão
tá mandando no baixo, mas não
se escutam os sensei

vim te quebrar
a cara, rir
te humilhar
e pedir-te
beijos e carne
de porco é brinde

Ouça toda a obra do Foo Fighters em uma única música


O último disco do Foo Fighters pra que dei atenção foi o One by one, mais porque já gostava do Nothing left to loose e quis conhecer mais da banda do cara que já havia tocado com um de meus compositores favoritos, Kurt Cobain, do que por ter curtido o primeiro single, All my life. Este disco até tem bons temas, mas não me desperta o interesse como os anteriores, parece que é aqui que Dave Grohl começou a se repetir e parou de se esforçar tanto pra compor, pode até ser coisa de gravadora. Quando lançaram Best of you rompi com a banda. Foi político. Tema monótono, repetitivo, texto raso de auto ajuda, cafona, clichê, parecia aula de como escrever música estilo Foo Fighters, com um quê de Coldplay. Só de pensar sobre, ela se cola feito chiclete ou cocô de cachorro pela calçada. Terrível. Não mais fui atrás, evitei, não ouvi mesmo.
Hoje meu amigo Arthur Brotto perguntou se eu havia ouvido a última música lançada por eles, que estava ouvindo, e esta era igual a todas as outras, que nem quis ouvi-la inteira. Enquanto eu abria o vídeo imaginava, vai ser forte e melódica como Times like these ou aquela forma dinâmica estrofe piano refrão forte que se faz desde os idos de 1980. Foo Fighters tem poucas formas musicais, por exemplo a que se mantém baixa sussurrada, como nas belas Walking after you, Aurora, Tired of you, e tantas outras. A que se mantém forte, Dave Grohl, que é ótimo cantor, faz dinâmicas expressivas, como na clássicas My hero e Everlong. O que varia é o arranjo, até a tonalidade das músicas se repetem, o cantor é bom e técnico, não costuma sair de sua tessitura, que é grande. Todas essas formas, todas as ideias, aparecem no primeiro da ainda banda catártica de um homem só, já em 1995.

Uma crítica mui adequada a esta crítica é de que eu não conheço, nada, do que produziram entre 2004 e 2015, são 10 anos.

Eis que retorno a hoje. Abri o vídeo de Run sem muita expectativa, e todas elas foram atendidas. A música começa suspirada e piano, o cantor varia sua dinâmica junto da banda, como o esperado. Quando o tema entra parece recuperar Weenie beenie do primeiro disco, surpreende, depois entra um refrão melódico que emenda no primeiro tema, a banda forte, o canto dinâmico, como nas clássicas, é um bom arranjo. Dave Grohl aqui parece se usar de todos os recursos que aprendeu durante sua carreira de compositor, o cantor mostra seus melismas, gritos, suspiros. É uma música completinha. Arthur disse que eles estavam para lançar um disco completo ma por enquanto só esta música. Mas acho que o pessoal, não entendeu, é isso mesmo.
Agora que ouvi a música pela segunda vez ela já me pareceu mais tediosa. O vídeo é bonito. Achei linda a insurreição dos idosos contra as imposições de uma psiquiatria asilar. Foo Fighter sempre foi bom em vídeos, Dave Grohl sempre trabalhou muito, e fez bem tudo o que fez, nos diverte como ator, é bom guitarrista, ótimo cantor, como compositor não decepciona seus fãs, mas pra isso se repete, talvez por gosto ou por ofício, não quero moralizar, mas fazendo meu juízo de gosto, prefiro não.

04 agosto, 2017

Ladainhas e clichês que se escuta falar sobre fazer música

Muito hoje se fala sobre música como negócio, assunto mais que urgente. Diz-se que um grupo de música, uma banda, é como um casamento, depois diz que deve se levar como um negócio, sem misturar o pessoal e o profissional. Ora, ou se casa por tesão e amor ou por arranjo econômico e familiar institucional. Música não é sequer casamento ou empresa. O Palcodigital levanta importantes estereótipos que atrapalham a manutenção de um grupo de música, mas são genéricos mal articulados que atrapalhariam qualquer investimento na vida, é a técnica do mind set, querer manipular a maneira de o músico pensar para encaixar-se no padrão estabelecido.

Não podemos nunca fazer as coisas em nome do medo, é uma questão espinosista, medo é paixão triste, portanto nos tira a potência de agir. Porquanto o medo nos proteja da morte, a música não se trata de sobreviver, mas de produzir desejo, super viver. Um sujeito pode não querer largar seu emprego e dedicar-se a banda de tal maneira não só por medo da fome, mas porque mais deseja a tranquilidade e estabilidade de sua família ou qualquer outro motivo subjetivo. Fazer música não é ter loja de capas para celular, é fazer arte. Envolve a vida do sujeito por inteira, do nascimento ao fim, não se trata apenas de manter-se vivo, mas de aumentar a vida, não só a própria. O medroso não deveria estar em bandas nem em lugar algum, mas a arte pode, por exemplo, lhe sublimar este afeto triste e lhe permitir um bom esquecimento. Expulsar um medroso da banda só para que a banda venda mais? Pois bem, cada um tem sua prioridade, mas me parece arbitrário.

O perfeccionista deve ser valorizado, mas ter o ego amansado. A banda não deve ser um ambiente paranoico para que os sujeitos se encaixem, mais uma vez, no status quo. Mas ambiente para transcendência, logo não é nem casamento nem empresa. Dificilmente um esposo ou esposa gostaria que seu cônjuge transcendesse algum aspecto no relacionamento, isto deveria ser minuciosamente negociado. Na empresa então nem se diz, se o patrão não gostar de uma sugestão ou ação, o que espera o sujeito crítico é o desemprego e a fome.

Fazer da música simples demanda a ser atendida, sem inclusive dar ferramentas de formação para os músicos, pode desqualificar o meio. A maioria dos compositores no Brasil nunca tiveram contato com educação musical formal, não que por si isto seja defeito, é uma qualidade a ser considerada, porém se estes músicos são alfabetizados pelo ouvido, lhes sendo exigido apenas atender pedidos de público alvo, dificilmente se desapegará dos clichês. O perfeccionista deve ser convidado a cada instante a mostrar seus defeitos, na mesma medida reparar-se-á em suas qualidades. O problema de evitar o perfeccionismo é que hoje muitos músicos deixam esse aspecto técnico, que não deixa de existir, para as máquinas, com quantizações, afinadores, e outras ferramentas digitais. Para o público não há queixa, as músicas chegam todas com os mesmos volumes, temperaturas, temperamentos e sabores, é como comprar um chocolate diferente no mercado, pode até ser pior que o favorito mas não será ruim. Não como ir num museu, este choca, irrita, encanta, muda nossa vida um pouquinho. Para o artista, essas ferramentas digitais, quando usadas para maquiar, lhes impede de ouvir também seus acertos. A maquiagem serve de cores e correções, a arte de coração, sincera, ou então irônica, ou qualquer outra coisa, mas não sem intenção ou emoção, como intenções de farmacêutico de bairro.

O atrasado é realmente um problema em todos os ambientes, de trabalho, de amizade, qualquer que seja o compromisso por informal que seja, atraso é deselegante e desrespeitoso, independente da situação. Mas não é imperdoável. Houve tempo em que bandas se reuniam basicamente em escolas ou bairros, hoje as metrópoles possibilitam encontros cada vez mais distantes, e as imprevisibilidades de trânsito, o tempo de deslocamento, obrigam alguns membros que dependem de transporte urbano para deslocar a si e a seus instrumentos, viajarem durante horas para percorrer poucos quilômetros. Não é exagero. Principalmente quando há horário marcado em estúdio pago, o atraso é imperdoável. Mas não há algo que esta banda possa fazer na ausência deste membro? Há alguma maneira de favorecer um pouco quem se desloca mais, quem tem menos recursos para o transporte? Ou a banda deve ser todas de pessoas com o mesmo poder aquisitivo? A única solução para este membro é sua expulsão? Ele é assim tão desimportante? É difícil encontrar horários para todos na banda, sempre é. Em shows não se pode atrasar, e contra isso poderia-se combinar até descontos no cachê, apesar de também arbitrário, mas os integrantes que tem carro podem oferecer caronas mesmo distantes com um diferencial no pagamento, ou a banda poderia reunir-se para oferecer diferencial para Uber ao membro que mora longe. Por isso banda não é empresa, empresa costuma pagar vale transporte. Nesse aspecto se parece com uma família, a empatia costuma ser ponto de partida. Também não se parece com casamento, porque há até um charme em certos atrasos como o da noiva.

A obsessão é também um problema em qualquer aspecto da vida, inclusive higiene pessoal. Não há muito o que falar, é assunto explorado pela psicologia, psiquiatria e psicanálise, astrologia, todos parecem ter opiniões e maneiras de lidar com obsessão. Não se deve nunca levar a popularidade como sintoma de qualidade. Nunca.

O instrumentista ruim pode ser ruim, mas mesmo Nirvana, famosa por não ter bons instrumentistas, é famosa também por ter uma obra consistente e relevante. O músico convidado para apoiar a guitarra instável de Kurt também não era lá grande instrumentista, mas fazia parte da estética. Isto o artigo do Palcodigital não considera, estética. Aliás, fala de tudo, menos de música. O instrumentista chamado ruim deve ser embarcado pelo grupo se assim lhes apetece, seja a fome pela amizade ou pelo rock n' roll. Adaptar-se a partir das dificuldades me parece um dos únicos meios eficientes de se fortalecer. A teoria, os livros, as estratégias são guias, mas a experiência, a dor e o prazer conectam esta consciência ao desejo, aos buraquinhos por onde escorre a criatividade. Um sujeito é um mundo e os escopos devem ser ultrapassados, como adaptar o arranjo do coro para a catedral sem deixar de inovar, evitar o trítono sem evitar a blasfêmia, pintar toda uma capela e oferecer um punhal aos Deuses. Todo artista mata Deus, porque sabe que morrerá, Deus não.

Querer que seu trabalho seja ouvido é, além de tudo o mais, óbvio. Divulgação e distribuição fazem parte da maneira como consumimos música hoje. Houve tempos em que não se tinha música em casa então todos eram obrigados a se deslocarem para alguns lugares e ouvir as mesmas músicas. Hoje a música vai até os bolsos das pessoas, pela rádio, pela tevê, pela rede. Pela rádio o artista precisa de jabá, pela tevê precisa fama e ideologia, pela rede precisa de canais e cliques. Com certeza pela internet é um meio mais fácil de se fazer ouvir, seja por muitos ou não. Divulgação de bandas pela web costuma se confundir com spam. Conhecidos com que há muito não conversamos pedindo pra ouvir suas músicas sem nunca terem se disposto a ouvir as nossas, grupos de amigos músicos em redes sociais com propaganda de shows e clipes, e sei lá mais o que sem nem curtir a página do amigo, ou seguir Soundcloud, Spotify. Pede-se muito dá-se pouco. Cada um tem a sua maneira de divulgar seu trabalho, o profissional nisso é o publicitário, se a banda quer trabalhos destes profissionalizados deveria contratar alguém que assim o faça. O marqueteiro não se implica na obra. Não podemos ignorar as questões de orgulho, vergonha, e outras subjetivas do autor. Seu trabalho é compor, vender é outra virtude, necessária, mas a banda deve se ajudar, sem se queimar e atolar a caixa de correspondência dos parceiros com discos que nunca ouvirão. Falta cena, artistas unidos falando um do outro, um crooner, uma Gal Costa que cante Caetanos, Gils, Cayimmis e a família toda, Miltons e clubes em esquinas que aceite mais que rock. Uma cena romântica, de ação, uma cena de militância e brio. Propaganda é alma de negócio capitalista, é o que diferencia Coca e Pepsi, não Van Ghogh e Duschamp. A alma da arte é outra, é preciso vender pra sobreviver, labuta é labuta, mas não devemos fazer música porque precisamos, como urinar, mas porque desejamos, como amar.

01 agosto, 2017

Melhor do que parece, O Terno



Delay, reverb, bonitos, protagonistas. A mixagem importa. Tim Bernardes tá cantando bem, bateria de Biel Basili presente, baixo de Guilherme d’Almeida maccartneyano. Bom refrão. percussão, a guitarra sempre bem timbrada, o fino do rock. A faixa de abertura, Culpa, é bonita.

Segue bem, se eu já tinha achado o nome da primeira faixa cristã, o órgão e a solenidade da introdução da segunda faixa quase confirma. Faixa divertida, dinâmica, bem arranjada, tá me fazendo pensar no título do disco.

Álbum dinâmico, desperta a curiosidade. O pan aberto, instrumentos separados, às vezes o baixo está à direita, charmoso, não chega a desequilibrar. Arranjos de voz bonitos, harmônicos. O C da terceira faixa caiu bem, inesperado, moderno. Uma alegre celebração amorosa, um ode.

Os arranjos estão realmente bonitos, cordas, vozes, percussão, mais a banda, baixo, bateria, guitarra e órgão dinamizam a leve repetição inerente a toda forma canção. Até aqui, todas as canções começam e terminam bem.

O Terno é uma banda de rock, fazem como os clássicos, misturam bolero, se atrevem na harmonia, na dinâmica, mas são rock. Percebem-se as referências, mas desenvolvem sua originalidade.

Eis que surge um samba, irônico, jocoso. Até o trompete parece caçoar, saturado e distorcido, bonito. Samba rock n roll.

Romântica, Volta, começa psicanaliticamente, nasceu amando. Me emocionou, deu saudade de minha namorada. Minha faixa favorita do disco.

“Minas Gerais” sobe levemente a dinâmica e muda de assunto, um rock exaltação, tipo Belchior. As referências são questionáveis, eis um bom compositor, o que bem disfarça suas fontes.

“Deixa fugir” não me convenceu, parece primeiro disco da Los Hemanos, com umas modulações sem graça ao final. Tou achando que o final do disco pode sofrer de uma síndrome do coda preguiçoso, também conhecido como encheção de linguiça porque o disco precisa de mais faixas.

Houve um tempo em que eu esperava pelo lado B dos discos. Os lados B do Silverchair, por exemplo, costumam ser minhas faixas favoritas, mas hoje parece mais obrigação de contrato, cumprimento de horário, como dizer que o disco precisa de 10 faixas. O último do François Muleka, O limbo da cor, não me causa essa sensação, mas o seu Feijão com sonho sim.

A penúltima faixa desperta o ouvido novamente, é uma bossa nova, curta.

O texto da última é uma queixa que já havia aparecido no repertório d’O Terno, o tédio das músicas novas. É um compositor realmente preocupado com sua obra, pesquisador, eu particularmente me canso do rock, mas é um gênero libertino, permissivo, um compositor que saiba se aproveitar do gênero pode compor boas canções, melhor do que parece, como esse disco. O final do álbum ficou Oasis, podiam ter aproveitado melhor os metais no final, mas tudo bem.

22 julho, 2017

5% pras 5 bandas dividirem entre 5 integrantes cada, mas a cerveja é do bar e não tem como chegar lá


como se chega nos lugares? como o cara volta p casa se mora no continente, sul da ilha, norte? os preços são justos também pro consumidor, entrada e bebida? noutros lugares, em sampa talvez, o acesso e o incentivo são infinitamente melhores, o problema em floripa ñ é só de público nem de produção, a cidade q ñ funciona. mesmo um evento a 5 golpetas no célula, se somam 7 de long neck e mais 30 de uber, isso contado q na ida pude pegar busão e gastar só os famigerados 3,50 com integração. qse 50 reais p prestigiar o evento, sendo q destes, 5 vão pro artista? pá, tô de boa...
em floripa tb falta criar cena, os artistas parecem se esconder em grupinhos, ñ somos unidos como exigimos dos parceiros. faltae e muito um meio de girar, de se fazer os artistas daqui serem ouvidos, como os programas na radio udesc, etc, mas ñ existe nenhum meio fácil de se ouvir expresso rural, françois, cereja azul, blame, caraudácia, de boa, sem preconceito de gênero, etc. simplesmente não tem. a maioria aqui são meus amigos e a maioria aqui também nunca ouviu minha cereja azul. vou culpá-los por falta de curiosidade? claro q ñ. o responsável por despertar curiosidade é do sedutor, e o fetiche que compõe a persona do artista não depende só de sua obra. p q alguém deixaria de ir numa balada lixo, mas putanhesca e da moda, pra se arriscar ouvir banda de rock do bairro vizinho? esta pergunta, acredito, quem deve responder somos os artistas e produtores, o desejo do público quem inventa somos nós.

20 julho, 2017

Valiosa figura de ação imóvel

  
A dona do boneco não deveria trancar o quarto dela por causa de criança. este episódio foi ilustrativo a muita gente. criança aprende a negociar com traumas assim, como poderia ser diferente? A mãe é que ainda não se flagrou que se escusa da responsabilidade de ser justamente mãe, a dona do boneco lhe deve absolutamente nada, nem explicações ou empatia, assim fez só e somente para evitar maiores conflitos. A mãe deve resolver a questão com o próprio filho, não dar lição de moral na filha dos outros. 

A dona dos bonecos Marvel deveria começar a expor seus bonecos na sala, traumatizar cada vez mais mães e filhos, e pais claro.

12 julho, 2017

cacofônica reforma trabalhista

Pra mim, esta reforma trabalhosta não muda em nada. Sou músico, nunca consegui emprego, renda, com meu ofício, exceto quando recebia bolsa da universidade para trabalhar no coral, noutro momento no estúdio.

A primeira vez que toquei na noite foi aos 16 anos. É dizer, trabalho desde os 16. Até já tinha carteira de trabalho. Mas o que o estabelecimento exigia era um cheque caução de 600 Reais, como eu mal sabia o que era um cheque caução ou mesmo 600 Reais, não lembro bem como eu, minha banda, e os outros músicos convidados fazíamos pra resolver isto, mas no final ainda lucrávamos uns 300 pra dividir entre 2 ou 3 bandas com uns 4 integrantes cada, eu gostava de comprar mangás com meu cachê desta época. Já neste tempo eu compunha, músicas que mantenho em meu repertório até hoje e tudo que ganhei de royalties foram 13 centavos de dólares com meus 8 seguidores no Spotify.
Há um tempo atrás trabalhei de repositor em mercado, substituí peso da insegurança financeira e dependência familiar, por pesadas 8 horas ao dia de organizar frutas e sim senhor. O que adorei em ser empregado é que parecia que eu não me implicava em nada do trabalho. Se vendesse ou não, se as frutas estavam bonitas, se havia alguma sujeira, bicho, foda-se. Diariamente, estar sem muito ser. Complicado, neurotizante, mas não difícil de cumprir.

Não precisei, não quis. Morar com a família tem suas vantagens. Pedi demissão e fui labutar de músico. Entrei prum coral profissional, bem estabelecido, que faz projetos para Lei Rouanet, paga aparentes bons cachês, fiz até MEI. Paguei taxa, peguei fila, comprei bloco de notas. É para profissionalizar-se, diziam, isso é burocratizar-se, eu respondia.

Este coro ensaia pelo menos duas vezes por semana, independente de ter concerto marcado, e mesmo com concertos marcados nem sempre se sabe quanto se vai receber, ainda assim os coralistas são descontados do cachê seguinte caso atrasem ou faltem. Nele também é exigido que o cantor se mantenha estudando com professor adequado. Eu que não terminei minha graduação, não trabalho em escola, não tenho sala alugada para dar aula, chego a cobrar 60 Reais a hora de aula, imagine quanto não cobra um profissional para treinar outro. O Instituto, como chamavam a instituição que assinava o CNPJ dos projetos, pede 10% do cachê de cada cantor para manutenção da sala de ensaio, sob ameaça de que só receberíamos a próxima paga se estivéssemos quites. Existe alguma outra taxa no mundo de 10%, além dos juros brasileiro criminosos? 10% era quase o que eu precisava gastar por mês mesmo sem precisar pegar ônibus todos os dias, porque claro que não há vale transporte, precisamos até pagar nosso café do intervalo, mas quem nunca?


Músico não recebe insalubridade, claro, o único inconveniente é trabalhar à noite. Não tem como o ônibus alugado parar para 20 cantores em pontos diferentes, não é mesmo? Por que não? O motorista não está trabalhando? Mas não devo argumentar, foi decidido assim. Por quem? O ônibus só para em 3 pontos e ponto final. Músico não recebe o suficiente pra táxi, ainda bem que em capital de ônibus na madrugada, mas prefiro pedir pra alguém chamar um Uber pra mim, já estamos fora de casa desde de manhã, cantamos das 20 e 30 às 21 horas, jantamos pizza, de novo, minha intolerância à lactose é tolerável, mas não quero ter que pensar em como pegar madrugadão nem pra onde, alguém chama um Uber pra mim, por favor.

Dia 7 de Junho é aniversário de minha namorada, eu viajei pra cantar e voltei só no dia 8 de madrugada, vulgo dia 9. O cachê caiu no dia 27. Aliás, caiu pra quem tinha conta no Banco do Brasil, porque quem, como eu, tem conta em outro banco, deveria ir à casa do patrão buscar um cheque. Eu não ouvia falar em cheque desde aqueles 16 anos. Desculpe, chefe, mas não tenho dinheiro nem pro ônibus pra ir ao ensaio, quiçá pra ir buscar cheque na casa do senhor. Minha namorada diz que eu posso tê-lo ofendido por ter respondido, que ele já é idoso e eu deveria prezar pelo trabalho que tenho. Discordo, se é velho e não aguenta negociar, contrate quem faça. Ele me depositou e me cobrou a taxa de 8,80 pela transferência.

Este não foi o único conflito, houve também concertos que dependíamos de portaria e por isso não ganharíamos cortesia nem pra nossa própria mãe, porém no mesmo dia, há algumas horas da apresentação, quando todos já estavam com aquele dinheiro a menos dos ingressos comprados, decidiram que liberariam alguns lugares. Me queixei, disse que me parecia justo que soubéssemos desde o começo das cortesias, todo o planejamento pessoal, familiar, muda por este simples detalhe. Todos me disseram que eu não deveria tê-lo feito, queima filme falar tais coisas. Teve outra em que pelo Facebook mandei à merda os responsáveis pelo atraso de meses de um cachê, pediram pra eu remover a publicação, pra me retratar, explicar que os responsáveis eram do MINC e não da produtora. Fiz, né, com meus resquícios de dissimulação e ironia, mas fiz.

Fui demitido, dispensado, dizem, esta semana por questões de desempenho, dizem, que o próximo repertório é difícil e que precisam de cantores com técnicas mais precisas, dizem, mas eu posso estudar canto e voltar a fazer teste dizem, eu não acredito. Sei do meu desempenho e não sou surdo pra ser incapaz de comparar com o desempenho de meus colegas, há diferenças, entre todos nós, de agilidade, colocação, afinação, expressão, disciplina, mas o que reparei que só eu fazia era falar. Ainda me disseram durante o humilhante ritual de dispensa que gostavam de mim, que minha companhia é agradável e que o problema, assim entendi, não era de meu temperamento, como precisaram falar não acreditei.

Achei que eu teria mais uns 4 concertos até o final do ano, sem aviso prévio, sem FGTS, sem seguro, comigo vão economizar aproximadamente 2500 golpetas, que seria aproximadamente a soma dos cachês até o final do ano, é o valor de um mês de aluguel sala de ensaio. Isto é mão de obra sem direitos trabalhistas, uma curva a menos na viagem, um mês de aluguel economizado. Se precisarem de um coro maior, eles tem meu contato, dizem.

11 julho, 2017

15 mil metros minutos

O patrão sai de casa com 15 minutos de antecedência. Já dentro do carro sente que precisa ir ao banheiro, coisa rápida, sua esposa e sócia não se importa com este imprevisto e enquanto isso escolhe o CD, o trajeto pode ser curto mas não tem porque não atravessá-lo ouvindo música. Xixi feito, volta pro carro ligado, põe o sinto e vai em direção à sala de trabalho. O trânsito pode estar lento, mas é possível desviar dos furões e dos ônibus que por obrigação param de ponto em ponto e nunca saem da pista da esquerda, por parada que esteja. Desta vez o patrão atrasou, 1 minuto, ninguém se importaria.

O funcionário também quis ir ao banheiro, já estava em cima da hora, se perdesse este ônibus não sabe o quanto esperará pelo próximo, mesmo assim foi, ninguém mais poderia fazer por ele. Ansioso, mas aliviado, já perto, mas ainda fora do ponto de ônibus, o inflexível motorista não quis parar para o atrasado mijão. A experiência lhe diz ser impossível, mas a lógica não deixa de confundí-lo, 1 mais meia hora parecem suficientes para concluir de automóvel um trajeto de 15 quilômetros, sem precisar muito a matemática é simples concluir que se precisaria manter uma velocidade de 10 quilômetros por hora para pouco ou nem atrasar. Ainda assim atrasa.

Apesar de não saber o quanto, às vezes nem quando, vai receber a paga pela sua labuta, sabe que será descontado se passar ou se aproximar dos 15 minutos de atraso. A solução primeira que todos dão é que se reserve 2 horas por dia para simplesmente ir, ao trabalho. Ao menos o funcionário, se conseguir ir sentado, pode ler dentro do ensurdecedor ônibus, ou então pode ensurdecer-se com fortes volumes de compressores em músicas sem muita dinâmica por caixinhas de som a centímetros do tímpano. Ele salta em um ponto próximo à sala de trabalho, o suficiente pra ainda ouvir uma música de 3 ou 4 minutos, como já está atrasado não faz questão de andar rápido.

Quando foi demitido chegou 15 minutos antes do horário, de ônibus é assim, ou atrasa ou adianta 15. Foi ficar sabendo da dispensa quando o expediente começou, desta vez com 15 minutos de atraso. Sem aviso prévio, sem contra partida, é a crise, dizem, precisam de uma equipe menor, dizem, mas gostam muito do rapaz, dizem, sua companhia é muito agradável, dizem. O funcionário, mesmo sem incentivo, precisa profissionalizar-se, a cada instante, mais, quando sua mão de obra for indispensável terá poder de barganha. Os patrões não querem que o funcionário dependa deles, mas a empresa depende de uma taxa de 10% em cima dos ganhos do funcionário, como se fossem juros de banco, como se o funcionário estivesse prestando um favor de emprestar-se da culta e nobilíssima empresa.

21 junho, 2017

idos insones

às vezes a insônia parece
bater de um jeito que os olhos
mesmo fechados ficam abertos
envolve e pesa e afunda o corpo
cansado pede pra se virar
mas ela continua lá
ainda que a preta paz
do sonho insinue me velar
um trem parece que vem
me desperto alerto
mas não vem

eis que de repente um ruído de motor que ninguém ouvia
cessa

não era insônia
à luz do poste
pássaros piam

12 junho, 2017

Tema de Jhuventude

Bem na verdade quero tua companhia
Todo dia navegar teu mar de tédio e paixão
Sem esperar dos negros olhos euforia
Dia a dia encantar estranho e tenro dispor

Mas vou dizer pra me deixares sozinha
Sem dizer que sim ou não, por que, por quem
Porém esta saudade vinha sem tuas jovens mãos de mel

10 junho, 2017

Taca Quiboa

Meme de membro do grupo da UFSC no Facebook.

VERSÃO REPUBLICANA

O grupo da UFSC do Facebook é um poço fundo de intolerância e incultura, só serve pra nos ensinar o vocabulário da ignorância, em suma conhecer o inimigo e saber o que evitar. Hoje encontrei esta desinformação por lá, mas o fato de um sujeito ter caído em um boato destes é mero sintoma.

Há maneiras corretas de se fazer a manutenção de uma obra de arte, lembremos do episódio com o "Ecce Homo". Não é apenas ferro torto, nem tinta num pedaço de pano. Há obras de Arte que valem centenas de milhões de dólares, tanto quanto o apartamento mais caro no Principado de Mônaco.

De que serve ao Estado economizar em cultura e pagar os juros de bancos? Como nosso povo será culto, emancipado, como o Brasil garantirá sua soberania apenas importando carro e música da Coreia do Sul, a culinária do neoliberalesco Mc Donald's, e pior, na paranoia da caça ao índio e ao comunista?


Deveriam só jogaram água sanitária na estátua, ninguém lê Drummond mesmo.

"Ecce Homo" antes e depois da reforma

VERSÃO IRÔNICA

esse pessoal de exatas da ufsc sabe mesmo como lidar com obra de arte. é só um monte de ferro torto, só tinta num pedaço de pano, deve ser barato manter essa bobagens de vagabundo, né? afinal, obras de arte quase não valem nada, não é como se um quadro pudesse valer tanto quanto um apartamento em monaco. mais investimento em arte pra que se já temos romero britto, e jingle de margarina? boa ideia é economizar em cultura e pagar os juros de banco, fiquei sabendo q o bradesco até planta umas árvores por aí. artista poolui, fuma maconha o dia todo, melhor é o bradesco plantar uns eucaliptos e o alexandre de moraes arrancar as flores de cannabis de toda latinoamérica. aí sim nosso povo será culto, emancipado, o brasil garantirá sua soberania importando carro e música da coreia do sul, importando a culinária refinada do neoliberalesco mc donald's, e caçando índio e comunista. por que só não jogaram água sanitária na estátua, ninguém consegue sequer ler as poesias de drummond mesmo.

14 maio, 2017

Perdoa

Por te beijar
Por te adorar
Com mais palavras
Por te mostrar o quanto te quis
Por te manter cerca de mim
Pra te amar até o fim

Por depender
Tanto querer
Estas mãos fadas
Por te acordar a paz de mim
Por não saber viver sem ti
Por isso, amor, imploro
Me desculpe

02 maio, 2017

Falar sem dizer

Escrever em Inglês pode ser uma escolha estética. Ele tem texturas, cores, sons, prosódias diferentes de nossa língua mãe. Muitas palavras são monossilábicas, e alterações de prosódia não mudariam necessariamente o sentido. Pode ser também uma adaptação à linguagem internacional, de mercado, em especial da internet, onde por decreto, ou não, é língua padrão, e das mais faladas no mundo se incluirmos segunda língua. Mas se fosse esse o caso, também veríamos conterrâneos nossos escrevendo em Espanhol, quiçá em Mandarim, o que não acontece.

Ouço nas discussões sobre o assunto um julgamento de gosto em cima de duas justificativas: que outros compositores pelo mundo também escrevem em inglês; que os artistas devem ter a liberdade de escolha e isto não deveria servir de crivo ao público. Bandas Brasileiras que tem o repertório em Inglês costumam circular em nichos específicos do gênero, como no Metal, Punk, etc, onde, talvez, o público releve a língua falada por priorizar outros atributos dessas músicas. A meu ver a discussão se perde aqui - pouco importa o gosto pessoal de cada um. Na medida do possível, em abstrato, o que pode representar cantar em inglês? A construção do argumento elucidará nossa preferência.

Por fim, sinto que compondo em Inglês o Brasileiro se isenta da responsabilidade do que está dizendo. Não seria absurdo dizer que a maioria do público de cá não entende Inglês, ao menos de imediato, sem precisar traduzir. Para este sujeito o sentido do que se diz chega muito depois do sentido musical, digamos - harmonia, melodia, ritmo, etc. Há músicas - RAP, repente, por exemplo - em que o texto é protagonista, há outras, incluo aqui a bossanova e o jazz, em que o texto é, ou pode ser, coadjuvante. Sinto, e isto é bem pessoal, que bandas Brasileiras compõem em Inglês pra não se implicarem naquilo que estão dizendo, poderem dizer sem fazer, a priori, sentido. O sentido, aquilo que se sente, fica a cargo de potências, digamos, musicais.

Pessoalmente não acredito que seja na capacidade cosmopolita do Inglês que nossos compositores mais se apoiam pra compor, por mais que assim o afirmem, mas nesta espécie de facilidade e pouca implicação com o que se diz. Exemplifico o que digo com uma música minha, composta aos 13 anos. Nesta época eu utilizava o Inglês sem nenhuma razão ou censura, Bernardo Flesch que me fez revisitar este tema, e hoje leio nesta minha ingenuidade um deboche contra isso de escrever em Inglês.



Outra música minha, mais recente, precisamente sobre este tema é "If u r wrong (do it all again)". O texto repetitivo, falando sobre fazer errado e tentar de novo, é uma provocativa - no caso, a mim mesmo - pra continuar fazendo, tentando e errando, fazer poesia não é simplesmente escrever o que se quer dizer.

25 abril, 2017

Brasa Brasil

Vai reconquistar Pindorama aquele que falar em Cultura, esta terra queima em desejo e palavra, dinheiro é um pedaço de papel. 

Os peles multicolores são curiosos e gulosos, ganância é pros pobres, trabalha porque se precisa, preciso é nos apropriarmos agora do ideal do ócio criativo, e o tal Brasil vai conquistar o mundo.

Do estabelecimento do português na carta de Pero Vaz ao estabelecimento do brasileiro na bossanova, o desapego e a fome da Tropicália e Cinema Novo, a vanguarda da poesia concreta, a baixaria dos anos 1990, ainda não nos damos conta de que nosso objetivo é antropofágico.

Falar em economia é importante, mas não falta nada, falta produzir.

Portugual, Tupi, Itália, Guarany, Japão, Kaiowá, Alemanha, Xokleng, Turquia, Yanomami, e mais quem nem quis vir filhos da África mãe. Brasa Brasil, Babel é aqui.

21 abril, 2017

Lula Imperator Brasilis

A capa da Veja com Lula de que mais gosto é a que o representa num busto tipo imperador romano, desses que influenciou mundos, fez graças e desgraças, tem uma imagem sólida que resiste guerras e tempestades, e mesmo partida, difamada, provoca encantamento e evoca estado de Arte.

Será que Lula também pagou a Veja pra lhe fazer propaganda? 🤔

Referência
PORTAL FÓRUM (Santos). Vale a pena ver de novo: a nova morte de Lula na Veja. 2017. Disponível em: <http://www.revistaforum.com.br/2017/04/21/vale-a-pena-ver-de-novo-a-nova-morte-de-lula-na-veja/>. Acesso em: 21 abr. 2017.

19 abril, 2017

Temos que construir um elevado por cima da ponte

Temos que construir um elevado por cima da ponte
Os ônibus estão cada vez mais vazios
As concessionárias cada dia mais ricas
E tem ponte que ainda não caiu
Tem gente que ainda acredita que carro acelera alguma coisa
Quarenta pessoas querendo entrar na pista da esquerda
Uma pessoa ouvindo rádio em ambiente controlado da chuva e do calor não acha justo
Todos pagamos impostos
A chuva pinga gelado mas o coletivo é caloroso
Tem gente
Que escuta música
Que lê
Que faz os dois
Ou nenhum
Ou chora, mas
Alguém pode reclamar
Alguém faz essa criança calar
Chegamos no Ticen

11 abril, 2017

Dia de burô

Floripa ilha 
dos aterros e burocracia 
Horas ônibus dia
à imagem e ruído
um ameno mar cagado
outro gris de carros.

19 março, 2017

Funk é filho de samba, do rap, sob o império do pop, na nação bossanova

Em nome da tradição se endurece e desbota, a vida se alegra quando se alarga. O samba nasceu, o morro é pai, agora brancos querem dizer o que se deveria fazer para estetizá-lo melhor. Mas Arte não é objeto, e como um sujeito rebelde, o samba cruzou com quem quis e quem o quis. Bossanova não é samba, é mulato de classe média que estudou o Brasil no exterior. Se ganhou o reconhecimento que ganhou internacionalmente é talvez porque tenha feito um bom trabalho, e consigo levou tudo o que lhe formou, de samba a Bach. O Brasil passou de exportador de matéria prima, banana, café, o que há de mais primitivo no mercado, e passou a exportar Arte, quem diz é Tom Zé. Em nome da tradição a música brasileira poderia estar fadada ao bairrismo e ao prestígio exclusivo de certos nichos, como já acontece com choro e o próprio samba. Popularidade não é sinônimo de qualidade, vide Romero Britto, juízo de gosto idem, vide estreia de Le sacre du printemps de Stravinsky. 

Funk é filho de samba, do rap, sob o império do pop, na nação bossanova. Genioso, incompreendido, antropofágico e visceral. Sem metáforas, é preciso mais que semiótica para interpretá-lo, é poesia inconcreta, pura imagem e batida, sem narrativa, um loop possível infinito, sensual e explícito.



"E tal dupla – o músico-teórico Pitágoras e o músico prático Jubal – sinaliza a assimilação medieval de uma distinção de raízes platônicas que, amplificada por Boécio, ainda ressoa em nossos ouvidos: em uma esfera, a música é entendida como meio privilegiado para a ascese mística, mas em um círculo mais baixo, a música, demasiadamente humana, é causa de emoções desordenadas e, por conseguinte, um instrumento incitador de degenerescência." (Sérgio Freitas. p 13)

Harmonia das esferas: Pitagorismo, ordem e beleza na teoria da harmonia tonal. - Sérgio Freitas 

05 março, 2017

Se o MBL falou, tá valendo o contrário



Imagino que as mazelas da colonização pelos brancos na Angola são diferentes das no Brasil. Vale a leitura e reflexão do livro Pele negra, máscaras brancas de Fantz Fanon. 

Ora, depois de quase meio século de escravidão no último país a abolí-la formalmente, ou é ingenuidade ou má fé comparar, sem ressalvas, a problemática dos negros com a dos obesos. Muitos grupos minoritários, não porque são em menor número, sofrem prejuízos em decorrência do preconceito da maioria, que também não a ver com quantidade, suas origens, efeitos e máquinas de guerra são diferentes, os loucos, as mulheres, os engajados nas questões de gênero, os negros, os obesos, os árabes, os pobres, etc. Há e haverá aquele que, pela cor ou classe, é oprimido, mas que encontra privilégios da maioria, da casa grande, via acordos contra o próprio grupo a que pertence. Vemos filmes sobre judeus que ajudaram nazistas, negros que ajudaram escravocratas, etc. Por exemplo o jovem conservador Fernando Holiday, vereador negro de São Paulo pelo DEM, militante do MBL, que tem projetos contra cotas, contra o feriado da consciência negra e provavelmente outras canalhices do tipo.

A questão do turbante especificamente é polêmica, eu não saberia opinar, mas sinto que apropriação cultural, que no Brasil se dilui e se confunde com nossa anti tradição antropofágica, existe sim. Há pressão no social para embranquecer sim, alisa-se o cabelo por muito mais que essa suposta praticidade do cabelo liso. Eu mesmo que nem negro sou me envergonhava por meu cabelo volumoso, pelo simples motivo de ser volumoso, sentia-me feio porque não me reconhecia nos heróis, cantores e outras personas brancas de cabelos lisos que bombardeam crianças dia e noite. Se um branco quiser fazer seja lá o que for que grupos de negros e outras minorias possam criticar como racistas, pouco o impede de fazê-lo, no entanto responsabilize-se e reconheça que se pode pertencer, sim, a esta categoria de quem ignora a questão racial. 

Nas palavras de quem tem propriedade.



Na polêmica sobre turbantes, é a branquitude que não quer assumir seu racismoAna Maria Gonçalves




04 março, 2017

O Estado hostil contra a Música forte

 


O vídeo chega a assustar pela truculência diante de um conflito tão banal quanto volume de música em um Sábado à tarde, faltam mandado e medidor de decibéis, sobram armas e confiscos.


Não adianta argumentar com o funcionário, militar responde à corporação e outras autoridades. No começo do vídeo o policial faz uma pergunta mui pertinente, és advogada? Se fosse, pela Lei, o funcionário público teria de mudar o tom, chamar de doutor e outras bobagens. Militar não responde às mesmas leis civis.


Não estivessem uniformizados, ninguém teria dúvida de que se trata de assalto, e esta deve ser uma questão central da discussão, o Estado ampara e legitima este tipo de arbitrariedade, vide reintegrações de posse, apreensões de fantasias políticas e toques de recolher durante o Carnaval. É inútil discutir essas questões com um policial no exercício de seu ofício, militares são treinados para suportar ofensas e pressões psicológicas muito piores que nossa civilizada consciência poderia articular.


Precisamos resolver os traumas decorrentes da ditadura, resgatar a Comissão Nacional da Verdade, problematizar a militarização da polícia nos municípios, nos desalienar de motivos e interesses da ação do Estado, ou ao menos reconhecer seus efeitos, por exemplo, em periferias, comunidades de maioria negra. O problema é estrutural.


Publicação original do vídeo

AVALANCHE Mídia

04 fevereiro, 2017

29 janeiro, 2017

noss as líng uas

minha língua é um chicote
macia e úmida verbal
logo tão mais violenta
do que se cortasse de prima
as marcas não aparecem
a saliva faz parecer curar
mesmo com carinho
açoite é sempre açoite
meu amor é violento
se te tratei bem
não te amei
mas se o que disse
te espedaçou em mil
o coração nesse vazio
ali está meu amor
felicidade será catares
caco por caco colares
perdoe por amar demais
me explodo e é insuportável
te querer tanto
pra sempre junto à minha solidão
se te abandonei te amei
se me esforço pra te manter aqui
é pra cedo ou mais tarde
me abandonares

tua língua são braços
macios e perfumados
cravo vivo negro carmesim
riso insuportável
ingênuo lindo e verdadeiro
mas verdades não existem
como podes existir tão jovem
velho desde que nasci
não te vou divertir
porque já o és
o que queres de mim
não dou
sou sempre falta
frente tuas palavras
carinhosas quentes apetitosas
graça sem sentido
quero ser piada tua
conseguir rir
és riso
eu dilataria tua vida
já que me despossei da minha
no feliz amor em ti
como podes tanto
não suporto e enjeito
golpes minha única suavidade
te deixar só

como é difícil
ter presente
o amor

03 janeiro, 2017

Ideologia mata

Apesar de querer alertar que qualquer cidadão pode cometer uma imprudência fatal, a meu ver o marqueteiro foi infeliz na escolha do arquétipo. São poucos os que se compadecem com animais de outras espécies ao ponto de resgatá-los, ao menos não são maioria se compararmos com aqueles que comem carne sem culpa, que testam ou usam produtos testados em bichos, ou até mesmo os extremos como caçadores e outros agressores por hobby. 

A publicidade teria mais sucesso se realmente problematizassem a maioria. Curioso o fato de a campanha evitar a alcunha cidadão de bem, usada pra chacinar uma família neste reveillon, ou o Luiz Ruas espancado no metro de SP em nome dos valores da família tradicional. Nem precisavam de modelo pra campanha, aliás, podiam nos rememorar o caso do Thor Batista.

Este marqueteiro foi muito infeliz, mas o que vale é a intenção poderão dizer, mas descuidados assim não são coincidência. Em uma campanha, mulher, aquela que resgata bichos, tem vários em casa... A outra campanha qual o modelo escolhido? Homem negro. Ainda outro faz analogia ás práticas como os Terapeutas da Alegria, outro ponto fora da curva dentro do paradigma da medicina. Entende-se a intenção da campanha do Governo Federal, mas ele não é representativo, e comete essas gafes, atos falhos, que ao inconsciente coletivo não é nada falho, é realização de desejo reprimido, nossa sociedade precisa se curar de traumas profundos. 


#ForaTemer