05 outubro, 2020

Cereja Azul - Bátegas Cerebrinas

Bátegas Cerebrinas
2020


Composição, arranjo, violão, guitarra, baixo, vozes, sintetizadores, mixagem e masterização por Lui. Com versão de "Magia Do Morro", samba de Zininho, e marchinha com poesia de Arthur Brotto.

Encarte completo - http://bit.ly/CABCencarte

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22 fevereiro, 2020

Impressões obre o Concurso de Músicas de Carnaval de Florianópolis 2020, 19ª edição

Anteontem aconteceu a final de "um dos mais significativos eventos musicais de Florianópolis", como dizia em seu edital, o Concurso de Músicas de Carnaval de Florianópolis 2020, em sua 19ª edição, que distribuiu prêmios somando 9 mil reais. Assim como mal se encontrou notícias e chamadas para a inscrição e convites ao público, a esta hora, 14 e 36, a 22 de Fevereiro, dois dias depois do concurso, se se pesquisar no Google sobre o concurso, há apenas um resultado sobre os vencedores, e de uma empresa de comunicação privada, é preciso entrar no site da fundação de cultura da prefeitura de Florianópolis para encontrar a publicação oficial, nenhuma chamada no Facebook, ou Twitter.

No primeiro dia, quando se apresentaram as 24 canções aprovadas na anônima pré seleção, ainda tive alguma impressão de que o Teatro Álvaro de Carvalho estava bem ocupado, não lotado, mas sem grandes espaços vazios, no segundo dia, com apresentação das 12 finalistas, já se anunciavam mais os bancos vagos. Isto me deu a impressão de que o público ali era formado na maioria por convidados dos próprios concorrentes, a torcida de cada um, por assim dizer. Talvez eu e mais meia dúzia estivéssemos ali para prestigiar as obras, e não pode ser assim, um concurso público, com a importância que pretende ter, tem obrigação de ir atrás de plateia popular.

Um detalhe nos captura de pronto, o fato de terem sido selecionados tantos compositores e intérpretes já consagrados na cidade, e que participaram em outros anos neste mesmo concurso, há quem já tenha vencido não um ou dois troféus, mas em 19 edições, o compositor Josué Costa, diz, em debate público no Facebook, ter levado 38 troféus. Isto ocorre de maneira semelhante com Daniel Manoel Filho, o Zinho, levou pelo menos 2 troféus em 2019, outros 2 em 2018, também um em 2016, agora em 2020 conquistou mais 2, e tem mais. Ainda que o concurso use e distribua dinheiro de isenção de impostos, ou mesmo do próprio erário, temos dificuldades de encontrar informações sobre algumas edições, por exemplo de 2017, ou qualquer outro anterior à 2010.

Fiz breves anotações sobre todas as músicas durante as apresentações para elaborar minhas opiniões, mas acho que não vale a pena tentar me lembrar e destrinchar cada canção agora. O que pode ser relevante ressaltar é que a impressão geral não foi boa. Algumas canções são realmente bonitas, a que levou o prêmio de primeiro lugar na categoria Marchinha, Quengo à Beira Mar interpretada pelo próprio autor Willian Farias, também vencedor em outras edições, é uma ótima canção, melodia cativante, de extensa tessitura, para bons cantores, com uma convenção muito divertida que aparece apenas na repetição do primeiro verso, e que obriga os maestro e banda a prestarem atenção no texto e nos gestos do cantor, a brincadeira com a gíria de Florianópolis, quengo, foi bem empregada, ficou suave e engraçada. Já a segunda colocada na mesma categoria, Eu Sou Coroa, de autoria de um dos invictos, Amaro Manoel da Costa, era fraca, melodia e harmonias que pareciam apenas dar suporte para o texto, que brincava de enaltecer o idoso, mas sem grandes sacadas, fazia um joguete simples com a gíria coroa e o uso da mesma palavra, por exemplo, na cabeça de reis e rainhas, mas a cena no palco era feia, homens mais velhos mostrando a barriga, com seus celulares como se batessem selfies, ou mandassem mensagens. Só não foi imagem mais grotesca do que os que não foram classificados para a final com a música sobre ditadura, aquilo sim era sem graça e de mau gosto, e outra com brincadeira sobre aparência de mulher, de autoria do Zinho. Mas é importante deixar registrado que estas marchinhas passaram no crivo da pré seleção, diz no edital que anônima, de um júri formado por técnicos da Fundação Franklin Cascaes, os responsáveis pela administração da cultura da cidade, e por músicos profissionais.

A escolha das marchas rancho também decepcionaram, a vencedora da noite, Benzedeira Na Ilha Do Carnaval, só não era mais sem graça do que a segunda colocada, do quase hors concurs Zinho, Onde Andam Vocês, e uma outra dos imbatíveis Zinho e Amaro Manoel Da Costa que chegou a tocar na final, A Herança Dos Ancestrais, esta parecia trabalhinho de escola, frases esparsas, clichês mais que infantis, sem reflexão alguma, e tocando em assuntos como miscigenação de maneira tão constrangedora que me fazia lembrar os piores momentos dos personagens David Brent e Michael Scott das versões do seriado The Office, chegou a subir no palco um rapaz branco caricaturado de índio, vestindo um cocar e carregando um sexto que deve ter sido comprado de vendedores ambulantes no Centro da capital catarinense. A que levou o terceiro colocado em marcha rancho, Décima Ilha, que rendeu a Fernanda Rosa o prêmio de melhor intérprete, poderia ter vencido, as frases musicais eram muito bonitas, diferentes e deslocadas, o texto inocente mas original falando sobre a tradição portuguesa.

Não saio com uma boa impressão deste meu primeiro envolvimento maior com o concurso de música de carnaval da minha cidade, há algo neste júri ou de mau gosto ou de preferência por uma estética tosca e simplória, como se quisessem argumentar que o importante é manter a tradição de zoar a cabeleira do Zezé e poder fazer piada homofóbica, não sei como, por causa de seu penteado, gente que ri de troça com a aparência de mulheres. Não ouvi muito do que tenha me surpreendido nas harmonias e melodias, posso me lembrar mal, mas acho que apenas a marcha rancho de Ana Claudia, De Zininho À Velha Senhora: Tempos De Agora,Tempos De Outrora, usou o recurso de mudar de uma tonalidade menor pra outra maior no mesmo grau harmônico, e também apenas esta e uma outra, Rasguei A Fantasia, de Tânia Aparecida Buch e interpretada pelo premiado Leleco Lemos, tinha dinâmica na velocidade das frases, faziam convenções mais longas e emocionadas.

Compartilho aqui duas marchas que compus com meu parceiro Arthur Brotto, inscritas no concurso mas que não passaram na pré seleção deste júri. Me pergunto no que falhei pra não ser escolhido, mas que acertaram a sem graça e agressiva contra mulheres, Procurando Jennipher de Zinho sim, e a outra sobre a ditadura que nem estou encontrado nome ou autor, e foram. Não é ser mau perdedor, pelo contrário, sou agora o atleta que analisa o jogo dos meu competidores para melhoras nas próximas competições, quero saber onde errei, onde falhei, afinal é um concurso público, com dinheiro público, de importância inquestionável, já que foi em concurso semelhante, Uma Canção Para Florianópolis em 1964, que se se consagrou a que mais tarde foi oficializada como hino de Florianópolis, Rancho Do Amor À Ilha, então é meu dever como competidor, e como cidadão, apreciar, estar atento e criticar eventos como este que podem elevar nossa cultura a níveis extraordinários, só precisamos, artistas, sermos levados a sério.