28 novembro, 2012

o futuro não existe nem nunca existirá; o passado já foi, não mais está aqui onde estou neste momento, agora, já.


o futuro não existe 
nem nunca existirá; 
o passado já foi, 
não mais está 
aqui onde estou 
neste momento, 
agora, já.

26 novembro, 2012

alta imensa maior que o mundo mais linda que dinheiro mais alta que coqueiro mais verde que o sol mais azul baguaçu violentada como santa decaptada tosada assassinada de uma vida de séculos mais velha que eu e que qualquer gaúcho vivo que vai morrer apesar de achar que não quando matou minha irmã minha árvore frutífera que alimentava meu irmão pássaro que cantava pro meu id sonho que velava meu descanso sono que agora acorda ao som de máquinas monstros estão avançando pra cima de mim e de minha vó que podia já ter morrido para não ter que passar por isso mas fico feliz que não porque a amo a amo como amo a cabeluda gárgula vênus portal do meu lar onde sempre sempre sempre sempre sempre sempre vivi e morei mais ainda não morri será que querem me matar? acho que sim mas não vão conseguir porque o único que pode tirar minha vida sou eu meu amor e a árvore mas a árvore já morreu agora só no ano que vem do ano que vem do ano que vem do ano que vem de mais de cem anos daqui quando seus cabelos voltarem a crescer que mania chata essa a dos homens que cortam os cabelos e as árvores pra caber mais carro e mais vaidade e menos amor e menos fruta de verdade já que fruta no mercado é feita de dinheiro sem dinheiro ninguém come as frutas do mercado nem vão morar nos monstros edificados que gritam a noite como se chorassem e devem chorar pois deve ser triste ser tão odiado e tão rico ao lado de gente tão amada e tão rica de amor e de árvore e de gatos cachorros e não de yorkshires e palmeiras mas sim avaí e guarani do abraão não de coqueiros mas da praia do cagão.

23 novembro, 2012

Ao amigo que chora de amor (pela falta, por parte dela; por excesso por parte dele)

Ai, como entristece
quando de amor sofre,
e chora melhor amigo nosso
- quem não se compadece?

Pior maldade não há
que a da mulher
que não quer
nos dar
amor. Pouco importa
humanidade! De que serve
nossa vaidade?

Sofre por querer um querer seu
de ser diferente do que se é
por causa da mulher.

Chora, amigo meu.
Pois nunca haverá
alegria maior que a amar!

22 novembro, 2012

Concreto quando posto na parede não é chão. Telha quando em baixo da cabeça não é teto. O sol quando é de noite tá no Japão. Cu pode até ser torto mas tem reto. Pau fora da árvore pode ser palavrão. A vida não é curta mas há exceção. Quando se fuma a vida é curta. Quando se bebe a vida é curta. Ou quando se é atropelado por um caminhão. No futebol se chuta a bola, na de gude se dá petelecos. A estrela quando caminha é artista. Coco é paroxítono, Cocô oxítono e tem gente que acha nojento. Baratas são nojentas e não morrem com radiação. Gente velha há anos atrás era nova. Roupa velha quando dada para outra pessoa é nova. Quando algo não é coisa alguma ainda não é nada, nada não pode ser nada porque o nada não é.

16 novembro, 2012

chuva, mas que saudade.

chuva, que saudades tuas!
eu estava aqui, tão sozinho
o sono não vem, ninguém vem...
aí que tu me vem.

ainda bem que chegasse, eu queria mesmo conversar com alguém. sabe, tenho me sentido sozinho, dona. tu tá sempre acompanhada, não é? nunca te vi realmente sozinha, e só uns poucos te aceitam assim, como tu é. como Caetano cantou a poesia de Augusto de Campos e Péricles Cavalcanti: "(...) Nudez total: todo prazer provém do corpo (como a alma sem corpo) sem vestes. Como encadernação vistosa feita para iletrados a mulher se enfeita, mas ela é um livro místico e somente a alguns, a que tal graça se consente, é dado lê-la". só uns poucos te sabem ler, te ouvir tua voz. essa tua voz que é só tua, que todos conhecem, mas ninguém escuta. dizem: "é boa pra ninar", como se voz tivesse utilidade além de ser linda. a voz serve para vociferar, pra fazer soar, a utilidade da voz é existir como voz. ora, um mesmo canto em diferentes vozes viram diferentes cantos pois que o canto depende da voz. tua voz é linda e inútil, de tão linda. (como gosto das coisas lindas!; como gosto de ti!). já minha voz não. fico triste por não conseguir te cantar. e bem, é disto que quero conversar, justamente isto que me angustia: pra quem cantar? ó, dona... é triste não ter pra quem cantar e cantar pra ninguém. poderia cantar pra minha própria voz, pro meu próprio canto... hoje quero aprender a fazê-lo: cantar pra minha própria voz, já que é ela que canta em mim. mas eu e ela andamos de mal - eu e minha voz. veja só que arrogância: chamo-a de minha como se a possuísse, mas não é bem por aí. aliás, eis minha frustração: minha voz não é minha, é só dela, mas mora em mim. pra te falar a verdade, dona, nem sei bem do que falo (mas falo, porque meu falo é o que falo). sabe, é essa a confusão, é essa a solidão. tanto que converso (ou escrevo?) pra ti, minha única companhia. e companhia de todos os outros. ainda bem que a uma hora dessas te deixam cantar tão alto; cantas com, tanto cuidado, cuidado de mãe, esse teu, de cantar segura e forte, e ainda assim ninar uma multidão. se tu só pudesse ninar uma única pessoa, quem ninarias que honra seria! ó, que alegria! vê? assim que quero fazer alguém feliz: ofereço meu canto! e só. pequenino canto que tem voz, palavra, sentido, lógica, técnica, emoção, saliva, língua, atos falhos, sexo, medo, desejo, e não tem dinheiro. não gosto, não quero, não, não, não. minha voz é pra fazer amar. não é mesmo, dona? afinal, a essa hora quem não foi ninado está amando. só pode. ou chorando, mas chorando de amor: que é amar. ou então está no japão.

já vais embora, dona? gostei do papo. eu estava precisando. conversar com gente que não sabe cantar estava me cansando já. é sempre bom rever uma grande amiga, um grande amor. nessa época do ano tu canta com mais frequência, por quê? é sempre mais calor e talvez haja mais quem dance e quem ouça; no frio pode ser difícil escutar, porque os queixos batem, ou então o fogo faz barulho de fogo, ou então a touca tapa os ouvidos, ou então se escuta outra música, ou então se conversa, ou então se faz sexo, por isso no calor é melhor de te ouvir. as crianças não brincam quando tu está cantando, no máximo veêm um filme e tomam chocolate quente. ou então jogam video game. eu queria ir aí fora te dar um beijo de despedida, mas pode ser que eu fique resfriado, aí já não poderia mais cantar. por isso que estou te falando que quero cantar pra alguém que possa me ouvir depois de me beijar. isso é amor: utilizar de todas as maneiras possíveis todo o corpo e toda a alma; experimentar e se relacionar a partir de tudo e com tudo; descobrir eus novos em mims atualizados a cada canto através dos cantos. poder beijar, cantar, falar, lamber, degustar, morder, assoprar, sugar, sorrir, ou não, e ainda assim: amar.

tchau, dona. até mais. te amo.

olha lá, ela vai mesmo embora e bem devagar, elegante como só ela. por isso que eu tou aqui sozinho, grosseiro e mal vestido. pareço mal criado, não mereço mulheres assim, fortes, seguras e lindas como ela. não, não. vou pra sempre ficar olhando, encarando, contemplando daqui de dentro, e só. mas eu a desejo tanto e tanto, como eu queria que ela entendesse isso.


tudo isso é pra dizer que a quero, só preciso que ela cante pra mim. pra mim. não gosto que cante pra multidão e me deixe cá embaixo olhando e ouvindo, em meio aos ingratos, esperando que eu vá interpretar, ler sei lá em que linhas, coisas mal escritas, mal ditas; que eu jogue jogos cansativos, com regras rígidas e antigas.


quero um canto novo, só pra mim, e eu canto pra ti. teu canto só pra mim, meu canto só pra ti. teu só pra mim. meu só pra ti. canto. canto. meu. teu. só pra. só pra. mim. ti. sopra mim. sopra ti. sopra. sopra.

te amo.

(me ame. me.)
te amo.
te amo. te.

linda duvida vida linda

lindas morenas lindas
moças lindas línguas
lindas saias lindas
saia lindas saia
escreve linda
linda escreve linha
por linhas por lindas
nunca lindas minhas nunca
minhas lindas nunca minhas
linda a linda
ainda lindas femininas
femininas lindas
lindas meninas
linda antiga longínqua linda
morena menina feminina
lia e lia linda lia
queria linda minha
queria minha linda
sim sim som linda sim som são lindas
 inda   im   i    em   im
l        s      t   s     m
                                   li    a
                                     nd

10 novembro, 2012

Teus olhos castanhos
Cor de chocolate amargo
Cor de grão de café
Grão de feijão vermelho cozido
Cor de tronco de figueira
Cor da minha mesa de computador
Minha mesa de jantar
Cor de cocô
De casca de coco seco
Cor de barro
Cor dos meus

09 novembro, 2012

Álbum de amizade (declaração de amizade)

Mas, se não captar aquela pequena raiz, o pequeno grão de loucura da pessoa, não pode amá-la. Se não captar o ponto de demência de alguém… Ele pode assustar, mas, a mim, fico feliz de constatar que o ponto de demêcia de alguém é a fonte de seu charme.”
 Gilles Deleuze¹

Em comemoração de meus 25 anos.

Amizade é caótica, bagunçada (pois é livre). A fotografia de grupo pretende captar e organizar um momento aleatório, mostrar (nos mostrar) o conforto que é estar em contraponto (ponto contra ponto, em relação; ora consoante, ora dissonante, mas tudo em prol à retórica perfeita da canção que é a amizade), conforto que pode ora precisar que se "afofe" mais um pouco as almofadas.



Amizade é recente, sempre atual (o passado da amizade deve rumar ao inconsciente, fora do ego, dentro do amor); nos atualiza no instante, no "já" (conselhos e sugestões de como resolver problemas imediatos, sejam eles aceitos ou não). Ao conquistar (sem esforço, por naturalidade, por amor) uma amizade, automaticamente o conselho, a sugestão, ganha importância, relevância.


Amizade é romântica; causa estranhamento e encantamento, nos enrubesce; amizade supera o gênereo e transcende o sujeito: inventa uma relação que deve, a cada instante, ser reinventada (a fim de que a amizade dure ela deve se atualizar sempre: deve evoluir dialetica e dialogicamente). Como podem relacionar-se o homem e a mulher na amizade recente? Eis que procuram-se novos conceitos, novas poesias, mas nada deve substituir, nunca, a amizade: a relação amorosa não passa (muito) de uma relação de amizade ultra-íntima.


Amizade resiste distâncias, virtualidades: não posso esperar que o amigo exista como eu existo; o ato quase-amoroso (proto-amoroso?) da amizade é precisamente receber e se deixar ser afetado pelo amigo como ele se apresenta (ser sensível ao estímulo mais próprio, único, individual e louco do amigo); querer que o amigo viva meu mundo é querer um outro eu: "quero desvelar teu mundo, amigo meu!"


Amizade permanece eternamente, mesmo aparentemente sem motivo (especialmente quando não há motivo): por que me afeiçoo por tal amigo? Por que permito que uma pessoa com a qual convivo, forçosamente muitas vezes, me conheça tão intimamente? Amigo não confia, não cobra confiança: a intimidade da amizade é tão clara quanto a da relação amorosa (ora, atreva-se a fofocar sobre minhas intimidades; não faz sentido trair um amigo).
"Fazer amor", na amizade, pode ser simplesmente 'rir': há quanto tempo rio com meu amigo? Quanto tempo mais vou continuar rindo? O riso dos que são íntimos (dos que conhecem segredos) tem intensidade própria, diferente do riso de prazer razo. O riso amigo não precisa de foco.


Amizade se dilui pelos vários anos que dura: sua intensidade nem sempre está na quantidade de tempo que se esteve junto, mas o próprio fascínio pela duração nos faz desejar estar junto um do outro: para sempre quero ser teu amigo para saber por que sou teu amigo, por isso planejo encontros, festas, bares; invento até mesmo amores, casos e problemas só para poder ter assunto com esta pessoa que amo tanto: meu amigo.


Amizade é divertida e despretensiosa. Estamos juntos nos momentos mais divertidos, principalmente as diversões importantes da evolução da vida social e profissional; participo, bebo, grito, rio nos mais importantes rituais (de formação profissional, acadêmica; aniversários, casamentos, nascimentos); não há nada que eu deseje mais do que estar vivo no teu velório (quero poder organizar teu velório), talvez o ritual mais importante de nossas vidas, e com certeza o ritual mais importante de nossas mortes; não suporto a ideia de te ver triste com minha partida, prefiro eu mesmo, na condição de teu amigo, suportar tua ausência terrena.


Amizade supera o gênero, transcende a sexualidade. O amor do amigo é como o amor de família: carinhos e cuidados infinitos. Supre todas as carências: emocionais, cognitivas e orgânicas (vitais): o amigo ama, ensina e dá de comer e beber. A amizade se torna como uma família, podendo o amigo se tornar um irmão - discute, discorda, e se apazígua no jogar videogame, no ver filme -, um pai (recrimina as ações aparentemente venenosas, dá conselhos rispidamente preocupa-se com a evolução viril -, uma mãe - se oferece a cuidar do que é mais caro e vital ao amigo -, tio, tia - deve ser aquele que apresenta e oferece o que os pais, por moralismo da posição paternal ou maternal, jamais se permitiriam se responsabilizar por pôr no mundo do filho -, vô, vó, cachorro, etc.


Amizade é produtiva, inventiva, criativa; produz desejos, devires. A própria relação dos amigos deve ser uma forma de obra de arte (original, em primeiro lugar), e como toda arte deve ter vida própria para além do "autor" (a relação de amizade): quero mostrar ao mundo nossa amizade; quero que nos vejam como Gil e Caetano, como Deleuze e Guattari, como Dionísio e Apolo.


Amizade é conflituosa, e a superação (resolução) de um conflito o faz se tornar uma anedota: "lembra-se de quando brigamos por aquele motivo banal? Como éramos crianças! Amigo, como fico feliz de ter superado isso ao teu lado": só com um amigo consegue-se superar conflitos e com estes gerar intimidades (quando brigo com um colega, imediatamente torno-me indiferente; já com um amigo, quando brigamos, nos odiamos para que o espaço do amor não permaneça vazio).
Distanciamo-nos um do outro, mas graças à relação de amizade deduzimos que o outro tenha seus motivos, e sabemos também que ele sabe que temos nossos motivos (o amigo não precisa que esses motivos sejam nobres pois eu o amo, e no amor tudo se justifica, inclusive a ausência).


Amizade é sóbria e profissional: devido as infinitas subjetividades, devo, na condição de amigo, me adaptar a relação, e encontrar a maneira mais potente de me relacionar com o amigo: não forço situações, quero que o amigo seja Outro (ele mesmo, no caso), e não eu mesmo: não quero que o amigo goste do que eu gosto, mas fico feliz com as coincidências; as coincidências coincidem nosso repertório de assunto.
Por alguns instantes, em algumas situações, sinto que tenho algo a ensinar ao amigo (quanta audácia a minha!), e o incrível acontece: o amigo, atencioso e carinhoso como uma mãe, aceita minhas sugestões e admite ter aprendido comigo; o amigo nos satisfaz; o amigo é como a mãe que se permite aprender com seu filho, e com os filhos dos outros.


Amamos quem ama quem amamos: como pode meu amigo amar tanto uma outra pessoa? Encanta-me este amor deles onde não estou. Eu poderia ter ciúmes, mas por fim percebo a alegria produzida a partir dessa relação (que não é minha, não é nossa: é deles, e é exclusiva) afeta a relação com meu primeiro amigo, como se meu amigo me amasse ainda mais por amar outra pessoa. Por fim que surge o maior encantamento: este amigo que ganhei como que um brinde, um presente, mostra-se tão interessante que eu mesmo desejo me relacionar para além do primeiro amigo (que ama e é amado por esta nova pessoa) e a cada encontro essa nova amizade evolui. Percebo, então, o que tanto apaixona o primeiro amigo nesta nova "amizade": apaixono-me também, de outra maneira, sem a intimidade amorosa.
(Desde que se permita e se esteja sensível a estímulos diversos toda relação que compõe um corpo irá compor todos os corpos que formam o que poderíamos chamar de "coleção de amigos")


Amizade é saudade, para sempre. Mesmo ao teu lado agora, na atualidade da nossa relação, fantasio nossa relação mais primitiva: sinto saudades, agora, de ti ao teu lado, agora. Quero poder sentir saudades de ti sempre, eis a amizade: não te quero como fosses, mas como és, e (in)felizmente és outra pessoa. Inventamos novos jogos, novas relações, novas formas de intimidade.
(Os afetos mais fortes são aqueles inexplicáveis, não é à toa que para se falar de amor precisa-se de uma obra de arte, pois o discurso (a dedicatória) nunca é suficiente. Nossa relação é tão intensa que não me atrevo a falar dela, sempre que o tento sinto-me cafona e fraco, eis porque preciso de nossa amizade: quero ser clássico e forte.)


É necessário que se discorde do amigo: quero crescer junto dele. Irrito-me a cada sinal de infantilidade, sinto-me um pai (as relações na amizade se refletem como na família, mas se desenvolvem de outra forma: não posso me atrever a moralizar meu amigo, ainda assim o faço). O amigo me estimula a pensar de forma nova, a aumentar meu mundo; aponta minhas contradições, fico então curioso: quem é este que não sou eu mas que me aponta com precisão? É o amigo.


Amizade dura: é antiga, presente e futura. Conheço seus gostos antigos e compreendo seus atuais; tou sempre consultando o amigo para afirmar meu bom gosto (da família eu resisto, do amigo eu absorvo).
Amizade é infantil: o "outro", o amigo, permite (muitas vezes apenas reconhece assim) que sejamos a criança de quando se tem as melhores lembranças juntos (a amizade é relação nostálgica; relação de passado no presente).

04 novembro, 2012

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