29 setembro, 2016

29 anos, ponto sem retorno

O da bicicleta é claro, todo mundo diz, não se desaprende a pilotar uma, mas em todo aprendizado há um ponto sem retorno, falar, andar, tocar um instrumento, chega-se a um ponto que, se houver algum tipo de retorno, parece retardo, podemos dizer inclusive isso indicar um sujeito adoecido. É dizer, alguém que fez algumas aulas experimentais de violão ficar umas semanas sem tocar esquecerá de tudo, outro alguém que tenha estudado durante mais tempo, performado, estudado repertório, escalas, mesmo que fique um bom tempo sem tocar, anos quem sabe, quando reencontrar com seu instrumento poderá tocar lindamente, mas enferrujada. 

O adulto é um ponto sem retorno. aos 27 senti uma ruptura, via fotos de falecidos ídolos meus que não viveram pra completar o retorno de saturno, e eu aqui, o que fiz? O que posso, o que devo fazer?

Durante o gerúndio da adolescência, e um pouco menos na juventude, podemos escolher ser músico pra depois biólogo e por fim estudar outros assuntos a fim de tentar concursos. Há então determinado ponto em que tudo isso se adultera, e há uma estagnação, só se pode tentar outra coisa em nome de um hobby, ou seria radical, no sentido de raiz, de que essa decisão deveria ter sido tomada mais original, ingenuamente. Um professor pode ser ótimo músico e ter uma banda legal, mas caso queira priorizar a carreira de músico não faltará quem questione sua maturidade, há um ponto do qual não se deve retornar. Bem, não sem rupturas, desterritorializações, sem algum conflito.

Há outro ponto sem retorno claro, óbvio, do qual só questionam aqueles que ainda não o alcançaram, a morte. Não é dizer que o adulto deixa de ser criança, mas que deve responsabilizar-se e produzir algo ao sê-lâ, adulterar o que há de infantil, pois o infant é aquele que não fala por si, é a infantaria, o fruto maduro nutre, dá sementes e se não se aproveitar de sua potência tudo o que pode fazer é apodrecer.

17 setembro, 2016

M acho

Macho é o cachorro,
O elefante, o mosquito.
Sou qualquer coisa
Além do macho. Bicho
Homem tem palavra
Adequada aos punhos
Da razão. O coice
Dá majestoso o gado.

Este corte nos lábios
Rubricam meu contrato
Com a força da família,
Dos amigos e instituições.

No processo fiquei rico,
Não corro mais perigo
De faltar com compaixão.

O que viu meu amor
Cegueira branca é mais branda.
Literaturação.

Já estou mais calmo,
Paranoia fala alto
Mas fala em catalão,
Não entendo seu sentido,
Ignoro sua intenção.

De repente eu rimo
Por pura distração.
Vou deixar de ser girino
Virar sapo ou sabão
Ou papo ou não.

14 setembro, 2016

Ordem, progresso; polícia, desejos e devires

Como dizem, se organizar direitinho, todo mundo transa. É dizer, há espaço pra libido de todos, pra todos os desejos, mas precisamos organizar.

Na bandeira do Brasil diz ordem e progresso, cafonice positivista, mas conceitos efetivos. De um lado o progresso, o avanço, a mudança, os devires, e do outro a ordem, a manutenção, a neurose. Parte dessa conciliação é feita pelo Estado Democrático de Direito, e a polícia é um dos principais pilares de uma nação firme e justa. 

O que sustenta qualquer um dos pilares deste Estado Democrático de Direito, que é o Brasil, é sem dúvida o cidadão. O projeto de Estado é votado pelo cidadão para que junto ao direito produza leis que protejam o cidadão de, inclusive, outro cidadão, que estimule a economia, a cultura,em nome de mais riquezas, belezas e bem estar social. 

Em casos homéricos de corrupção esperamos poder contar com uma polícia justa, autônoma e bem amparada, contra casos de violência cotidiana, brigas domésticas, na rua, em casos de assalto, ameaças, a boa polícia quando começa a investigar não falha. Por isso tão assustador quando agem de forma truculenta em nome de um Estado que não foi o eleito, por exemplo. A polícia pode ouvir o cidadão, porque ela trabalha para um Estado Democrático. Se esta voz não é a ouvida nas ações do judiciário, do legislativo, do executivo, falta o Democrático no Estado de Direito.

Não se defende menos polícia, questiona-se seu uso. Contra uma manifestação, é necessária uma polícia ostensiva, armada, à cavalos? Contra as drogas, é mais eficiente a polícia ou a Saúde? Uns dizem que sim, outros que não, enfim, opiniões e estratégias diferentes. Como organizar esses desejos dentro de um mesmo Estado? Poderes, constituições, leis, regras sociais, morais... mas nunca podemos deixar de questionar, de criticar, as ideias, ideologias, os desejos, os devires, a própria neurose deve vir do cidadão, do sujeito, não imposto por instituições. Ora, não é isso que se diz contra instituições religiosas? Que cada um possa interpretar o texto à sua maneira e ter meios de que sua voz possa ser ouvida, mesmo que seja dentro de uma garrafa jogada no mar, ou no Twitter. 

Um político não escuta elogios quando faz um bom trabalho, mas crítica, sugestão mesmo fazendo um bom trabalho, no final das contas é pra isso que está ali, para ouvir e legislar em nome de quem fala e vota. Fazemos assim em muitas instâncias, mais reclamar que elogiar, coisa grosseira, podemos mudar, depende de cada um, no entanto há quem se sujeite a prestar serviços ao público, por ofício ou paixão, e deve se responsabilizar pelo local de fala que ocupa. Um boxista reclamar de levar um soco, um psicanalista se queixar que seu paciente fala demais, um pianista reclamar de ouvir piano, um cobrador de ônibus se queixar de dar o troco...

12 setembro, 2016

03 setembro, 2016

A estética da cidade e a pichação Fora Temer

Um local privilegiado para se anunciar, dizer algo, é do que há de mais caro. Alguns segundos no intervalo comercial da tevê, outdoor em local de trânsito pesado, meia página em revista de grande circulação, a letra do anúncio no jornal. Há quem, por circunstâncias e desejos, sente que tem o que dizer mas não por onde, a imprensa revolucionou esse meio, mídia, por onde se dizer, hoje a internet inaugura uma rede entre nós, e é um novo privilégio ter esses sítios de livre expressão. Ainda, anunciar na cidade tem mais alcance, claro, é onde se vive.

Quem detém o controle sob a estética da cidade? Onde seria capaz de nos comunicar com as inúmeras pessoas que passam por nós? Os terminais de ônibus de Florianópolis, do Consorcio Fenix, sabem lucrar com seus paineis, é mais fácil saber das últimas promoções da Pittol, das óticas do pai da modelo, que do horário do ônibus pro Rio Vermelho.

Há pichações que são assinaturas, como faz Trump em seus prédios por Manhattan, há outras que são imperativos, como o outdoor "Não pense em crise, trabalhe" do golpista, ambos pagaram caríssimo por esses locais de destaque, um com uma pequena herança de alguns bilhões do pai, o outro com milhões de votos usurpados.

Grafites são outra coisa, outro design, outros objetivos, a valorização portanto é de outra ordem, de juízo de gosto. Como o Estado pode fazer para dar vazão a toda, ou às mais possíveis, formas de expressão? Não há outra finalidade pra nossa violenta e armada polícia militar do que atirar contra adolescentes, jovens e adultos equipadas de tinta e indignação? Mesmo contra os blocos pretos que atiram pedras contra os blocos cinza de concreto de empresas, e bancos, que agora terão apenas de usar de seus fundos para explorar ainda mais seus empregados sob ameça de desemprego e fome. Não há médico, cubano ou burguês, que faça o olho da jovem agredida por um militar voltar a enxergar.

Jornais constroem narrativas, não informam fatos, não são mais verdadeiros que uma poesia de Leminski ou uma pixação #ForaTemer. Quando falamos contra algo, nos posicionamos a favor de outro algo, e isto é importante, evitar a hipocrisia, reconhecer o classismo, o racismo, o machismo, o golpe, e se posicionar diante deles, negar as ideologias que tentam nos afogar, é isentar-se de responsabilidade e sucumbir a elas, mas resisti-las, nas ruas, na fotografia, nas urnas, é o bom encontro entre coração e ação.