03 setembro, 2016

A estética da cidade e a pichação Fora Temer

Um local privilegiado para se anunciar, dizer algo, é do que há de mais caro. Alguns segundos no intervalo comercial da tevê, outdoor em local de trânsito pesado, meia página em revista de grande circulação, a letra do anúncio no jornal. Há quem, por circunstâncias e desejos, sente que tem o que dizer mas não por onde, a imprensa revolucionou esse meio, mídia, por onde se dizer, hoje a internet inaugura uma rede entre nós, e é um novo privilégio ter esses sítios de livre expressão. Ainda, anunciar na cidade tem mais alcance, claro, é onde se vive.

Quem detém o controle sob a estética da cidade? Onde seria capaz de nos comunicar com as inúmeras pessoas que passam por nós? Os terminais de ônibus de Florianópolis, do Consorcio Fenix, sabem lucrar com seus paineis, é mais fácil saber das últimas promoções da Pittol, das óticas do pai da modelo, que do horário do ônibus pro Rio Vermelho.

Há pichações que são assinaturas, como faz Trump em seus prédios por Manhattan, há outras que são imperativos, como o outdoor "Não pense em crise, trabalhe" do golpista, ambos pagaram caríssimo por esses locais de destaque, um com uma pequena herança de alguns bilhões do pai, o outro com milhões de votos usurpados.

Grafites são outra coisa, outro design, outros objetivos, a valorização portanto é de outra ordem, de juízo de gosto. Como o Estado pode fazer para dar vazão a toda, ou às mais possíveis, formas de expressão? Não há outra finalidade pra nossa violenta e armada polícia militar do que atirar contra adolescentes, jovens e adultos equipadas de tinta e indignação? Mesmo contra os blocos pretos que atiram pedras contra os blocos cinza de concreto de empresas, e bancos, que agora terão apenas de usar de seus fundos para explorar ainda mais seus empregados sob ameça de desemprego e fome. Não há médico, cubano ou burguês, que faça o olho da jovem agredida por um militar voltar a enxergar.

Jornais constroem narrativas, não informam fatos, não são mais verdadeiros que uma poesia de Leminski ou uma pixação #ForaTemer. Quando falamos contra algo, nos posicionamos a favor de outro algo, e isto é importante, evitar a hipocrisia, reconhecer o classismo, o racismo, o machismo, o golpe, e se posicionar diante deles, negar as ideologias que tentam nos afogar, é isentar-se de responsabilidade e sucumbir a elas, mas resisti-las, nas ruas, na fotografia, nas urnas, é o bom encontro entre coração e ação.