12 dezembro, 2012

Eu quero ser uma estrela da pedra, neném




"I wanna be a rockstar" é um grito por liberdade tão urgente à adolescência que exterioriza a angústia em forma de gutural, pelo berro: nossa ferramenta, nossa arma mais primitiva, anterior à própria linguagem, quase “blablação” não fosse o significado da frase na língua inglesa, mas, em princípio, é como se o significado das palavras pouco importassem. O personagem rockstar foi o boêmio dos anos 90 (a música foi composta em 2002, na década seguinte, portanto o personagem do rockstar é como um resquício diurno, como se a década anterior fosse a "aurora" de minha atualidade; como se a década anterior fosse o dia, que forma todo o inconsciente obscuro, a noite atual, em mim, que alucina, sonha, com o ser rockstar nos anos 2000), o anarquista, o poeta, por quem as mulheres se atraíam apesar das roupas surradas e rasgadas e dos cabelos mal-penteados (seria justamente por isso que elas se atraíam? por parecer que precisam de mães, os rockstars? desejavam se sentir, com eles, a mais poderosa das mulheres: a mãe? cuidando dessa criança desamparada e angustiada que é o rockstar?).

Quando grito o que quero ser em outra língua imediatamente explicito (fico nu) que quero ser outra coisa que não isso que forçosamente sugere minha língua materna, minha mãe: quero renunciar a mãe, superar o desamparo, tornar-me o falo invejado; quero dominar a mãe, e por isso quero ser rockstar, possuir, dominar as muitas mulheres que se atreverem a serem minhas mães. Grito ao contrário do que me foi dado durante toda minha formação de sujeito, meu espírito torna-se leão e grita o sagrado "NÃO!" do Zaratustra de Nietzsche - nesta música meu espírito ainda não está pronto para se tornar criança, minha virtude não está tão potente.

"You want to hate, I don't wanna blame". Sou assim violento justamente por não querer sentir esse ódio por quem me tornei, apesar de em geral sentir que querem que seja eu seja odiado; e também não quero culpar ninguém, não me cabe culpar, sei que sou quem sou só por ser quem sou e isso não diz respeito a ninguém se não eu mesmo. E, como não sou mais cristão, e nem quero sê-lo, não me culpo. No entanto falo sempre na negativa, por isso tenho que ser agressivo, tenho que exteriorizar essa dor em força, quero produzir subjetividade, desejo; ação positiva contra o discurso-negativo: tenho que ser dialético para evoluir. "Listen what they say, what I told you: I wanna be a rockstar, baby. I wanna be a rockstar". Eu nem mesmo tenho assunto, é apenas isso que desejo, é isso que me falta: ser um rockstar, tudo o mais é anunciação: escute, escute... Mais uma grosseria minha, outra agressividade: chamo tua atenção, peço para que me escute, para então gritar em teus ouvidos o que quero: ser um rockstar. "Your life's so swell, well I don't really wanna live like that". Pois é justo isso: não quero ser bacana, não quero ser o bom vizinho, o que dá presentes à namorada somente nos aniversários; quero ser o amante! quero ser o poeta! (sei que Werther me entenderia) prefiro morrer a ser bacana (por fim a morte, sempre a morte no final, e somente com a morte se pode acabar).

Para mostrar que sei ser rockstar e que faço o que bem quiser eis que transformo a música em salsa, mas mantenho a mesma harmonia do grunge (assim avanç, vou mais além, sinto que supero um de meus ídolos, Kurt Cobain e seu Nirvana: quero, eu mesmo, tornar-me um ídolo), depois mais esta outra coisa (que era de meu amigo e me foi dado com carinho por ele, mas bem sei que nunca será meu, e por transferência me compadeço e me aproprio, agrego ao meu discurso; com a ajuda de meu amigo me torno essa outra coisa que quero ser, e como o amo, bem poderia ser ele, meu amigo, que me tornarei, por isso faço questão de usar o material que me oferecido por meu amigo) que não respeita a harmonia, sobe e desce cromaticamente, que se fortalece em dinâmica, de pouco em pouco, e cada vez mais, ralenta e... explode! em Tom Jobim. Ah, Tom... não quero sentir ódio, não quero culpar, escute... eu quero ser você! Só que do meu jeitinho. Ainda não sei qual é, por isso grito, por angústia, mas escute... estou tentando.

Eu vou ser um rockstar antes que eu morra.

Até que isso me mate, como o fez com todos os outros rockstars, boêmios, poetas, artistas e amantes: quero morrer de amor, não de ódio e culpa, de ser bacana. Produzir vida até que isso culmine em morte.

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