03 abril, 2018

Novilíngua sem limites, lobotomia hoje se chama psico cirurgia

A psiquiatria, associada à neurologia aplicada, é o único ramo da medicina que não se preocupa com o paciente adoecido. Seu sucesso consiste em mudar o comportamento do paciente, e porquanto se diga que o problema a se resolver é um nervosismo incontrolável, tanto o repórter quanto o profissional de jaleco entrevistado concluem que o sucesso foi ter feito o rapaz agora lobotomizado já não dar mais trabalho à família.

Nunca se ouvirá de um médico que deseja curar um paciente com câncer afim de dar menos trabalho aos familiares, no entanto a psiquiatria invariavelmente intervém em um sujeito por causa dos outros em volta dele, nunca em nome do bem estar do sujeito que diagnosticam.

A cirurgia dita inédita, desenvolvida durante os anos 30 em Portugal, recomendada para quem sofre de problemas mentais, parece resolver os problemas de todos exceto de quem é diagnosticado. Repare nos movimentos do sujeito psiquiatrizado, o olhar vago, baixo, inexpressivo, porém manso, domesticado. Não está sequer normalizado, mas neutralizado, que parece ser o único resultado possível da psiquiatria contemporânea, da ritalina eletro choque. É preciso relembrar que lobotomia não é novidade e há tantas pesquisas comprovando sua ineficácia quanto é certa a agonia que nos causa a ideia de seccionar nosso cérebro.

O repórter começa e termina a reportagem sem falar do paciente, mas insiste que a mãe, essa sim, finalmente pode viver uma vida tranquila com o filho. Ela deveria se perguntar, ainda é o mesmo filho? Qual a relação entre cérebro e mente, entre mente e ser? O comportamento é sintoma do que não devemos ser, ou justamente o sintoma de não sermos o que somos? Agora, com o filho manso, inexpressivo e de conexões no cérebro literalmente partidas, a mãe pode esfregar a mão no cocuruto do filho, e todos assumem que isto é carinho. 

Não me parece uma questão simples, envolve sofrimento em todas as partes. Argumentam contra a agressividade do paciente, mas em momento algum se perguntam sobre as causas dela. Para se tratar uma dor de cabeça é preciso saber sua causa? Uma dor de estômago se trata diferenciadamente caso sejam gases ou câncer. Se estão assumindo que o temperamento do sujeito é doença, não deveriam buscar causas, e trabalhá-las afim de experimentar a cura? Mas não, assumem que caso anulado o sintoma, caso anulado o estorvo, logo o problema foi resolvido. Em sua explicação, o cirurgião ainda explica que o procedimento "causa uma pequena lesão controlada para 'tentar' controlar aquele sintoma", e quando quer falar sobre os males que provoca o sintoma ele gagueja, lhe ocorre um lapso, faltam palavras, mas resolvido o conflito na consciência assim conclui, o transtorno da doença afligia a família, não o doente. 

Fizeram a mesma cirurgia em uma criança de 12 anos, e dizem que passa bem, isto deve significar simplesmente que sobrevive. Só e somente querem controle sobre a agressividade, não se fala uma única palavra sobre o bem estar do paciente, nem uma.

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