11 julho, 2017

15 mil metros minutos

O patrão sai de casa com 15 minutos de antecedência. Já dentro do carro sente que precisa ir ao banheiro, coisa rápida, sua esposa e sócia não se importa com este imprevisto e enquanto isso escolhe o CD, o trajeto pode ser curto mas não tem porque não atravessá-lo ouvindo música. Xixi feito, volta pro carro ligado, põe o sinto e vai em direção à sala de trabalho. O trânsito pode estar lento, mas é possível desviar dos furões e dos ônibus que por obrigação param de ponto em ponto e nunca saem da pista da esquerda, por parada que esteja. Desta vez o patrão atrasou, 1 minuto, ninguém se importaria.

O funcionário também quis ir ao banheiro, já estava em cima da hora, se perdesse este ônibus não sabe o quanto esperará pelo próximo, mesmo assim foi, ninguém mais poderia fazer por ele. Ansioso, mas aliviado, já perto, mas ainda fora do ponto de ônibus, o inflexível motorista não quis parar para o atrasado mijão. A experiência lhe diz ser impossível, mas a lógica não deixa de confundí-lo, 1 mais meia hora parecem suficientes para concluir de automóvel um trajeto de 15 quilômetros, sem precisar muito a matemática é simples concluir que se precisaria manter uma velocidade de 10 quilômetros por hora para pouco ou nem atrasar. Ainda assim atrasa.

Apesar de não saber o quanto, às vezes nem quando, vai receber a paga pela sua labuta, sabe que será descontado se passar ou se aproximar dos 15 minutos de atraso. A solução primeira que todos dão é que se reserve 2 horas por dia para simplesmente ir, ao trabalho. Ao menos o funcionário, se conseguir ir sentado, pode ler dentro do ensurdecedor ônibus, ou então pode ensurdecer-se com fortes volumes de compressores em músicas sem muita dinâmica por caixinhas de som a centímetros do tímpano. Ele salta em um ponto próximo à sala de trabalho, o suficiente pra ainda ouvir uma música de 3 ou 4 minutos, como já está atrasado não faz questão de andar rápido.

Quando foi demitido chegou 15 minutos antes do horário, de ônibus é assim, ou atrasa ou adianta 15. Foi ficar sabendo da dispensa quando o expediente começou, desta vez com 15 minutos de atraso. Sem aviso prévio, sem contra partida, é a crise, dizem, precisam de uma equipe menor, dizem, mas gostam muito do rapaz, dizem, sua companhia é muito agradável, dizem. O funcionário, mesmo sem incentivo, precisa profissionalizar-se, a cada instante, mais, quando sua mão de obra for indispensável terá poder de barganha. Os patrões não querem que o funcionário dependa deles, mas a empresa depende de uma taxa de 10% em cima dos ganhos do funcionário, como se fossem juros de banco, como se o funcionário estivesse prestando um favor de emprestar-se da culta e nobilíssima empresa.

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